De amor e trevas, um filme dirigido por Natalie Portman!

    Amos Oz foi um escritor israelense, nasceu em 1939 e faleceu em 2018. Suas obras, traduzidas em diversos países, deixaram um registro maravilhoso sobre a boa literatura e, principalmente as relações entre as pessoas, a sociedade, a política e afins.

    Do autor, eu li, há um bom tempo, a obra “E a história começa: dez brilhantes início de clássicos da literatura universal” e procurei acompanhar as notícias sobre autor, principalmente por conta de seu posicionamento político.

    Então, foi uma surpresa maravilhosa encontrar um filme baseado em um de seus livros, a autobiografia “De amor e trevas”, dirigido por Natalie Portman, conterrânea do autor, que conta a história de sua infância e a depressão de sua mãe em um contexto social e político muito difícil, dominado pelos conflitos entre árabes e judeus (a Palestina nos anos 40 – século XX).

    Melancolia, cores sóbrias e cenas silenciosas

    O filme é carregado em melancolia, as cores são sóbrias e as cenas silenciosas consegue dizer tanto quanto os diálogos que, ora mostram a aproximação da família de Amos, ora o distanciamento, causado pela rotina, a falta de recursos e as bombas da guerra.

    No início do filme, o foco permeia os três personagens – mãe, pai e filho, porém, conforme o plano de fundo histórico muda – para pior, a história vai se apegando cada vez mais em Fania, a mãe de Amos, o que faz muito sentido, uma vez que mãe e filho possuem uma relação muito estreita e toda obra representa o olhar de Amos, o seu ponto de vista.

    Fania gostava de literatura, lia muitos livros e adorava contar histórias de seus ancestrais. Amos, a ouvia com atenção e também já demonstrava um interesse pelas histórias e pelos livros. Porém, sua mãe vai lentamente caindo em uma depressão profunda, ao ponto de ficar totalmente apática em relação ao mundo em sua volta e Amos, silenciosamente, acompanha o sofrimento de sua mãe em paralelo à sua vida como criança – as brigas na escola, as brincadeiras na rua etc.

    Quando o filme chegou ao final, eu estava diminuída, pequena. O cenário colabora para essa sensação de vazio e desesperança. Os atores transmitem as dores e as aflições de viver em um período de conflitos políticos e religiosos. Um dos momentos mais cruéis é quando Amos constata que a depressão se equivale a quando sua mãe deixa de contas suas histórias.

    De amor e trevas: a mulher e o casamento – seu passado e seu presente

    Impossível não observar a posição social de sua mãe. Ela, apaixonada por um homem que também gostava de literatura, viu sua vida despencar pela falta de dinheiro e perspectivas em relação ao seu futuro. Assim, para Amos, sua mãe era uma mulher cheia de desejos, que gostaria de viver realizando grandes coisas.

    Em diversos momentos, a imagem de um homem muito diferente de seu marido faz parte da história, como se fosse uma ligação da mãe a esse passado esperançoso e feliz que ela gostaria de ter tido. Em uma das histórias de Fania, duas pessoas se ajudam e se salvam, uma quase se afoga, mas consegue sobreviver. De repente, percebemos que é Amos, mesmo criança, que tenta salvar a mãe. Não é o marido, que procurou outras mulheres, não é esse homem do passado, que nunca retornou. Como se o presente de toda a sua vida estivesse encerrado; como se a certeza de que o passado não volta dilacerasse todo um coração.

    É muito comum a frase de que ler o livro é melhor que ver o filme. Neste caso, vi o filme primeiro e amei. E claro que agora estou louca para ler o livro.

    As artes se misturam, as artes se ajudam. Portanto, Natalie Portman fez um excelente trabalho em De amor e trevas e Amos Oz realmente possuía um olhar especial para o mundo, para o seu passado e para a própria literatura.

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