Cão 1 está desaparecido” é um conto da escritora, geógrafa, mestre em paleontologia e blogueira Lady Sybylla. Publicado pela primeira vez na revista Trasgo #3, também faz parte da antologia Fractais Tropicais – o melhor da ficção científica brasileira, organizada por Nelson Oliveira. O conto parte de uma explosão nuclear e Sashi, a protagonista, sobrevive, apesar de apresentar muitas dores e perdas de seus equipamentos tecnológicos. A destruição foi tanta que ela mal sabe onde está, mas precisa encontrar o tal “Cão 1” que, até o momento, o leitor não saberá do que se trata.

    “Podia ver o braço da galáxia salpicando de estrelas brilhantes por entre a fumaça, o pó e as nuvens”. (p. 55)

    A princípio, é interessante perceber como a autora constrói esse universo futurístico com elementos que vão montando o cenário e também a personagem, pois ela utiliza uma roupa tecnológica e com “nanomeds” – pequenas partículas introduzidas no corpo capazes de curar o que se precisa, como minúsculos médicos robotizados. Então, ela avança em sua busca em meio aquele campo radioativo, com dores porém corajosa. “No horizonte, ela via o cogumelo distinto, escuro e alto da bomba nuclear contra um céu colorido de amanhecer.” (p. 57)

    Explosão nuclear, uma ameaça.

    A possibilidade de uma grande explosão nuclear não é algo tão distante de nossa realidade. Infelizmente, bombas radioativas foram usadas em guerras e também temos a história de Tchernóbil que, por conta da minissérie da HBO, trouxe de volta um ponto de vista sobre o que aconteceu na usina da União Soviética 1986.

    Dessa forma, o conto de Lady Sybylla traz uma pequena fatia sobre o que há em comum nas histórias reais e ficcionais sobre a guerra: pessoas tentando sobreviver, dando o melhor de si pelo outro, pela vida. Ou seja, em meio a um mundo irreal, o ser humano ainda é o mesmo – que tenta sobreviver apesar de tudo.

    Comunicação – uma arma invisível

    George Orwell, no livro 1984, critica severamente o poder da comunicação. Sendo assim, sabemos que não basta apenas armas, mas uma linguagem que se conecte com o povo (por medo ou por admiração) é capaz de iniciar e terminar guerras. Portanto, é muito importante termos sempre a dúvida como arma.

    Como exemplo, os próprios acontecimentos sobre a “Lava-Jato”, que foi vendida pela mídia como uma força para acabar com a corrupção e, de repente, notícias revelam que a própria organização já estava contaminada por um juiz que não cumpriu com as leis básicas sobre o seu próprio ofício. Assim, as pessoas se iludiram, outras brigaram, outras se escandalizaram e aqui estamos nós.

    Mas, então, o que tudo isso tem a ver com o conto de Lady Sybylla?

    Sashi, a protagonista, em alguns momentos nos faz lembrar uma grande heroína, por sua postura, ações e até mesmo sua vestimenta. Mas o que ela está fazendo nesse campo de batalha? Por que ela precisa encontrar o Cão 1? Por que, mesmo nesse cenário de fim de mundo, ela mantém sua postura de soldada?

    E, por fim, quem jogou a bomba? Quem fez a explosão nuclear acontecer? Se Sasha está ao lado dos “mocinhos” ou dos “Bandidos”, somente ela mesma poderá dizer.

    Porém, muitas vezes, quando se trata de uma narrativa curta, as histórias acabam sendo individuais e não abarcam o universo social e político, apesar desse universo influenciar totalmente as personagens, suas vidas e suas ações. E a literatura, como uma arte tão poderosa, consegue mostrar tudo isso. “Cão 1 está desaparecido”, de Lady Sybylla mostra tudo isso.

    Ou seja, a boa literatura sempre cumpre sua função de especular, investigar, recriar e responder sobre o que há no nosso presente e, nos contos de ficção científica, sobre o que haverá em nosso futuro.

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