É como se “A curva do sonho” estivesse presente na literatura desde sempre e Ursula K. Le Guin iluminasse esse pedaço de escuridão.

    A escritora americana Ursula K. Le Guin (1929 – 2018) faz parte dos grandes nomes da literatura de ficção científica. Em suas obras conhecemos futuros muito diferentes de nossa realidade e ao mesmo tempo capazes de nos fazer pensar sobre a nossa existência: de uma forma mais íntima; mas também de uma forma mais ampla, como a sociedade, a política e a guerra.

    No livro A curva do sonho, o personagem principal chama-se Orr e ele precisa de ajuda médica ao perceber que seus sonhos estão se tornando realidade. De louco a consumidor de medicamentos controlados, o personagem chega a passar dias e dias acordado com medo de dormir e acabar com o mundo. E, assim, a obra se constrói a partir dos sonhos de Orr e sua suposta realidade que se transforma a cada vez que ele acorda.

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    Um dos aspectos mais interessantes da obra é como Ursula construiu essa ideia de reformulação constante da realidade. As lembranças do passado de Orr, à medida que a história se desenvolve, são diferentes e mais complexas, porque em seus sonhos ele é induzido pelo seu médico a tentar reverter os problemas que assolam a humanidade. No entanto, as soluções encontradas no inconsciente de Orr pegam todos – personagens e leitores, de surpresa.

    Ciência, aprendizado, teoria e prática

    George Orr é o homem que transforma seus sonhos em realidade. A princípio, ele está totalmente perdido, mas à medida que avança em seus sonhos e nas conversas com o cientista William Haber, frestas de uma possível solução é colocada em evidência. Aquele homem pacato e sem perspectiva para a vida, aos poucos, ganha coragem de se colocar como protagonista do que lhe acontece.

    William Haber, médico de Orr, funciona como uma representação da ciência e do conhecimento. Durante a história o leitor fica em dúvida sobre sua integridade, uma vez que ele demonstra a clássica sede pelo poder e age de modo frio diante dos desastres ocasionados por Orr. Para ele, não importa a vida das pessoas contanto que, o futuro seja promissor e justo para aqueles que sobreviverem.

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    E nesse jogo entre Orr e Haber; professor e aluno; teoria e prática; lógica e intuição, a narrativa se constrói de uma maneira ímpar. Inspirada em grandes citações de escritores e pensadores famosos que aparecem no início de cada capítulo, é como se “A curva do sonho” estivesse presente na literatura desde sempre e Ursula K. Le Guin iluminasse esse pedaço de escuridão.

    “O ato de sonhar acordado — que está para o ato de pensar como a nebulosa está para a estrela — beira o sono e com ele se relaciona como se fosse sua fronteira (…) Sonhar e que não é nada mais que a aproximação de uma realidade invisível. O sonho é o aquário da noite.”

    Citação do livro “Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo. Presente no início do Capítulo 7 do livro “A curva do Sonho.”

    A personagem Heather Lelache aparece como uma força impulsionadora para George Orr. Se ele duvida das intenções de Haber, Lelache funciona como uma personificação de sua própria confiança. E, uma vez que a história nos faz pensar ser um sonho dentro de outro sonho, Ursula K. Le Guin nos presenteia com uma obra rica em reflexões sobre onde começa e termina a realidade.

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