“Nothing vast enters the life of mortals without a curse” 

    [Nada grandioso entra na vida dos mortais sem uma grande maldição] 

    Sófocles (frase de abertura do documentário “O Dilema das Redes”, 2020)

    Dilemas são sempre difíceis. Geralmente colocam duas possibilidades que se excluem mutuamente. O Dilema das Redes (The Social Dilemma – 2020) é o nome do novo documentário da plataforma de streaming Netflix. Esse dilema se torna mais complicado no atual momento, já que passamos, em virtude do isolamento social, a utilizar mais as redes sociais. Se optamos por esse caminho, corremos o risco de deixar de lado o real, substituindo as relações pessoais pelas virtuais.

    Com uma abordagem cognitiva, o filme demonstra, junto a animações e depoimentos de especialistas de diversas empresas, como a lógica da programação busca prender os usuários, oferecendo aquilo que eles desejam. O termo usuário pode ser entendido não somente como aquele que faz o uso, mas como aquele que cria dependência da conectividade. Esse vício envolve diversos fatores: ela se nutre de nossos sentimentos e sentidos, daquilo que gostamos. O algoritmo busca sempre nos direcionar para onde almejamos estar.

    O preço das redes

    As redes são gratuitas? É possível explicar como todo esse serviço pelo qual não pagamos, mas que geram uma gigantesca receita e concordamos com os termos? Conforme o documentário retrata, elas não são de graça, pois arrecadam milhões com a coleta de dados. “Como nós não pagamos pelos produtos que usamos, os publicitários pagam pelos produtos que usamos. Os publicitários são os clientes. Nós somos a coisa que está sendo vendida”, alguém afirma na produção.

    Qual o motivo da não transparência de quais dados são armazenados? O mercado. Sim, existe um mercado da informação muito lucrativo que armazena, utiliza e vende nossos dados. É a partir dele que se programam as inteligências artificiais e se executam previsões. Não à toa, as redes sociais, cada vez mais, são usadas em questões políticas e afetam mentalmente os seres humanos. “É um novo tipo de mercado. É um mercado que nunca existiu antes. E é um mercado que negocia exclusivamente o futuro do ser humano”.

    Entendemos aquilo que nos consome?

    Os depoentes, ex-funcionários de grandes empresas de tecnologia, falam sobre o que pensavam ao projetar algo e o que se tornou quando executado. Por exemplo, Justin Rosenstein, cocriador do botão do like do Facebook, relata que o criou para as pessoas se sentirem bem e que jamais imaginou o efeito reverso, ou seja, que adolescentes se suicidariam ou entrariam em depressão pelo baixo número de curtidas. Isso porque, me parece, há uma dimensão da tecnologia que nos escapa, com a qual devemos nos preocupar. Como abordado por O Dilema das Redes, muitos de nós usamos as redes sem entendê-las e aí habita o perigo, pois é um consumo insuspeito e desenfreado.

    Quando terminei de assistir ao documentário, verifiquei meu tempo de uso nas redes e percebi que estou usando-as mais. Então comecei a refletir se é somente pelo momento em que estamos vivendo, já que nunca fui uma pessoa conectada além do necessário, ou se estou entrando na lógica dela sem perceber – veja o dilema. Fica aqui a indicação de um filme importante para pensar sobre esse nosso consumo, que mesmo sendo recente, está muito naturalizado. Assiste lá!

    Trailer de “O Dilema das Redes”


    Veja mais: 10 séries para quem se interessa pelo futuro

    Share.