Daniel Lopes Guaccaluz traz para o leitor uma história sobre vida, morte e Minas Gerais.

    O interior de Minas Gerais é o cenário. A vastidão e o silêncio das montanhas são a metáfora perfeita para uma história de gerações, de amor, de conflitos e de segredos ancestrais.   

    O romance “Geraes”, de Daniel Lopes Guaccaluz, nos apresenta, inicialmente, uma saga familiar, com relações um tanto turbulentas, com personagens que se desdobram entre passado e presente, entre feridas abertas e tentativas de cura.

    Há, por exemplo, Alma, uma jovem cantora, filha de Catarina, mulher a quem ninguém prende ou pode domesticar, e Álvaro, sujeito que está atento apenas às miudezas do mundo, distante, portanto, da vida prática. Com essa união tão improvável, Alma é uma mistura de touro e colibri. Carrega as dores de uma família amaldiçoada, mas tem a leveza da arte, dos sonhos e, principalmente, do amor.

    Outros personagens apaixonantes compõem a história, como Jaymito, o menino autista que ouve os mortos; Blanca, menina indígena da fronteira com a Bolívia, Dom Paco, o patriarca que inicia sua riqueza a partir da descoberta de um tesouro mitológico. E, para completar, há ainda Jó-João, o professor que refaz sua vida optando ficar bem longe da intelectualidade, embora seja graças a ela que este se torna, na narrativa, o interlocutor perfeito que ajuda o leitor a organizar as entrelinhas da história.

    Mas, para além das ricas experiências retratadas por esses personagens, o autor nos oferece grandes e oportunas reflexões sobre a vida e sobre a morte.

    A começar pelo fato de que o narrador desse romance é caracterizado como o “não-nascido, o abortado”, ele é quem conta a história de sua família. A genialidade dessa escolha para narrar uma saga familiar está no fato da existência de um não-ser, aquele que está entre o fato e o mistério. Trata-se, portanto, de um personagem que reside naquele local onde não se conhece, mas sabe-se que existe. Cria-se, com isso, um elemento diferente e muito curioso à narrativa. Para se apresentar, esse narrador usa o recurso da poesia, outra ótima escolha, uma vez que ele precisa contar uma história a partir de uma visão interrompida, abortada. É como se sua existência não coubesse na narrativa comum de se contar história, por isso, lança mão dos recursos poéticos para poder expressar o que vê e o que sente.

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    Um cenário perfeito

    Filosofia, História, Cultura Popular e interessantes referências musicais criam as reflexões da trama. Mas nada ali é adereço, acessório. É preciso estar atento porque tudo está intimamente ligado, faz parte da composição e, portanto, é essencial para que o leitor acompanhe a saga e desvele o mistério.

    Para tanto, reafirmo, o cenário é perfeito. O interior de Minas Gerais traz aquela cultura um pouco mágica, porque vem do que é simples e justamente por isso não exige nenhuma maior explicação racional, apenas o sentir. O sentir profundamente. Parece que, quanto mais profundo o texto embarca nessa simplicidade do sentir, mais nós, leitores, compreendemos o emaranhado da vida que se apresenta. Minas é magia pura. É encantamento. E a história de Alma, Blanca e Dom Paco, que ali se passa, é universo encantado pelo mistério.

    O mistério, aliás, só pode ser explicado pelo amor. Tanta história, tanta grandeza de vidas atrapalhadas para que tudo possa, enfim, se condensar na cura pelo amor. O final do livro é maravilhoso, surpreendente, mas não pode ser revelado aqui. É preciso vivenciar toda a leitura e se entregar a ela para compreender que de todas as histórias, a história de amor é sempre a mais bela.

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