Acessar a poesia de Antonio Bispo dos Santos é adentrar num Brasil necessário e urgente se queremos um futuro mais digno e preservado em todos os seus sentidos…

    Antonio Bispo dos Santos nasceu em 1959 no Vale do Rio Berlengas, Piauí. Ele se formou através do ensinamento dos mestres do quilombo Saco-Curtume em São João do Piauí. Foi o primeiro de sua família a ser alfabetizado. Conhecido como Nego Bispo, ele é autor de artigos, poemas e dos livros “Quilombos, modos e significados” (2007) e “Colonização, Quilombos: modos e significados” (2015). Ele atuou como líder quilombola na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Sua atuação política e militância estão enraizadas em sua formação quilombola, que valoriza a defesa dos territórios tradicionais e a preservação dos símbolos, significados e modos de vida dos povos.

    E se tudo isso é um tema novo para você, a sugestão é iniciar o tema a partir das poesias de Antonio Bispo dos Santos. Mas antes, veja:

    Algumas das principais ideias de Antonio Bispo dos Santos

    • O pensamento de Bispo é baseado na experiência e concepções das comunidades quilombolas e dos movimentos sociais de luta pela terra.
    • Ele desenvolveu proposições epistemológicas a partir dos saberes tradicionais dos povos “afro-pindorâmicos”, termo que utiliza para se referir aos descendentes africanos e indígenas/pindorâmicos.
    • Seu conceito de “contra-colonização” desperta debates na academia e além, relacionando regimes sociopolíticos e cosmológicos.
    • Bispo entende a colonização como um processo etnocêntrico que busca substituir uma cultura pela outra, através de invasões, expropriações e etnocídio.
    • O conceito de “contra-colonização” proposto por ele implica a ressignificação da matriz cultural dos povos e suas práticas tradicionais, como forma de resistência à colonização.

    Conheça 3 poesias de Antonio Bispo dos Santos:

    Fogo!… Queimaram Palmares, Nasceu Canudos

    Fogo!… Queimaram Palmares,
    Nasceu Canudos.
    Fogo!… Queimaram Canudos,
    Nasceu Caldeirões.
    Fogo!… Queimaram Caldeirões, 
    Nasceu Pau de Colher.
    Fogo!… Queimaram Pau de Colher…
    E nasceram, e nasceram tantas outras comunidades que os vão cansar se continuarem queimando.   
    Porque mesmo que queimam a escrita, 
    Não queimarão a oralidade.
    Mesmo que queimem os símbolos, 
    Não queimarão os significados.
    Mesmo queimando o nosso povo
    Não queimarão a ancestralidade.

    Nós extraímos

    Nós extraímos os frutos nas árvores…
    Eles expropriam as árvores dos frutos!
    Nós extraímos os animais na mata…
    Eles expropriam a mata dos animais!
    Nós extraímos os peixes nos rios…
    Eles expropriam os rios dos peixes!
    Nós extraímos a brisa no vento…
    Eles expropriam o vento da brisa!
    Nós extraímos o calor no fogo…
    Eles expropriam o fogo do calor!
     Nós extraímos a vida na terra…
    Eles expropriam a terra da vida!

    ​Não fomos colonizados

    “Quando nós falamos tagarelando
    E escrevemos mal ortografado
    Quando nós cantamos desafinando
    E dançamos descompassado
    Quando nós pintamos borrando
    E desenhamos enviesado
    Não é por que estamos errando
    É porque não fomos colonizados”.

    Livros de Antonio Bispo dos Santos:

    A terra dá, a terra quer (Antônio Bispo dos Santos)

    poesias de Antonio Bispo dos Santos

    Sinopse: “…Desafiando o debate decolonial, compreendido por ele como a depressão do colonialismo, propõe a contracolonização, um modo de vida ainda não nomeado e que precede a própria colonização. Não se trata de um pensamento binário, mas de um pensamento fronteiriço e “afro-pindorâmico” para compreender o mundo de forma “diversal”, integrado por uma variedade de ecossistemas, idiomas, espécies e reinos. “A terra dá, a terra quer” registra de modo inédito muitos dos saberes transmitidos pela oralidade por esse “lavrador de palavras” acerca do agronegócio, das cidades, das favelas, dos condomínios fechados e da arquitetura. Transitando por muitos mundos, Bispo semeia potentes traduções de questões cruciais para o nosso tempo como ecologia, clima, energia, trabalho, cultivo e alimentação. Diante da mercantilização da vida e dos saberes, este livro compartilha a força ancestral da circularidade começo, meio e começo. + AMAZON

    Colonização, Quilombos: modos e significados

    O livro de Antônio Bispo faz parte da coleção publicada pelo INCT de Inclusão, assinada por mestres das comunidades tradicionais brasileiras. Bispo é um líder quilombola e professor da disciplina Encontro de Saberes na UnB em 2012 e 2013. Seu livro oferece uma nova perspectiva sobre os quilombos, comunidades negras que resistiram à escravidão e simbolizaram a luta contra o racismo e pela autossuficiência. Bispo apresenta uma narrativa concisa que aborda resistências históricas, como Palmares, Canudos, Caldeirões e Pau de Colher, e projeta seus ideais para os dias atuais. BAIXE AQUI

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