Após seis meses de dedicação quase exclusiva à minha monografia, volto a ler 2666. É estranho ficar tanto tempo sem ler um livro, a sensação é de ter deixado os personagens lá, congelados, esperando por minha leitura, para poderem continuar com suas vidas no papel.

    o bolaño me parece um daqueles autores, e talvez a função desse trecho que você transcreveu acima seja deixar isso claro, que é necessário brigar pra se extrair o sumo da obra, se quisermos apreender algo dali. é difícil! mas compensa. penso também que não se deve se assustar com algumas pontas que ficam meio soltas na prosa desse escritor. ainda mais nesse livro, que de tão enorme, tenta abarcar uma pequena totalidade e, ainda assim, demonstra que nem sempre as coisas se encaixam. isso dá a sensação de que há episódios meio sem pé nem cabeça, como o do testamento geométrico, mas afinal, não é a própria vida assim, um nonsense? e agora, se prepare: o livro ficará cada vez mais sombrio: esqueça os amores dos críticos e o existencialismo esquizofrênico do amalfitano: o deserto de sonora é o terreno perfeito para o florescimento da maldade humana. boa sorte!

    (Comentário deixado no blog Livro & Café por Fernando de Araújo)

    O trecho acima foi registrado no último post sobre 2666 e achei pertinente começar este post com ele. Dá para perceber que a coisa tá ficando feia, e isso é um elogio à obra de Bolaño. Vejam só: parece que o cara desconstruiu a forma de um romance, não sei se proposital, ou coisa do editor, que decidiu publicar as cinco histórias num único livro. Reparem, uso muito o verbo “parece, percebe-se” porque, conforme indico sempre, este é um Diário de Leitura, tudo pode mudar até o final, ou não.

    2666
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    E os seis meses sem ler Bolaño me fez esquecer algumas partes, mas me recordo bem que adorei demais a primeira parte ao ponto de considerar as outras partes um pouco morna, porém boas, afinal o livro é 2666, de Roberto Bolaño e o cara sabia o que estava fazendo.

    Diário de Leitura 2666 ou como recuperar a memória?

    Para recuperar minha memória, li dois artigos muito bons. Um chama-se “2666 – Roberto Bolaño – Difícil de Roubar, Ótimo de Ler”, escrito por Eduardo Simantob para a revista Bravo. O outro chama-se “Anotações sobre 2666”, de Gabriel Innocentini, para a revista Bula.

    Nesse segundo artigo há comentários sobre a narrativa de Bolaño ser considerada lenta. O artigo discorda dessa afirmação e eu também, pois não me importo com isso, porque é tudo uma questão de percepção. O texto pode não ter personagens realizando grandes ações (pulando em precipícios, fugindo de bandidos – como nos filmes americanos), mas há as pequenas realizações, que essas sim modificam o mundo do personagem, o personagem real, humano, não esses aí vendidos pela televisão. É necessário captar o movimento dos personagens: um olhar mais atento para a paisagem, um pensamento diferente, uma conversa singela, um sonho louco, uma mania estranha, são nessas ações psicológicas que moram as características dos personagens. E é em cima delas que Bolaño trabalha, ou seja, é preciso sensibilidade para ler livros assim.

     “A leitura é prazer e alegria de estar vivo ou tristeza de estar vivo, e sobretudo é conhecimento de perguntas. A escrita, em compensação, costuma ser vazio. Nas entranhas do homem que escreve não há nada”. 

    Roberto Bolaño

    Leia as outras partes do Diário de Leitura 2666 aqui

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    2 Comentários

    1. Cristine Tellier on

      Vi o título da postagem e imediatamente pensei “Preciso retomar a leitura”. Provavelmente há mais de 6 meses foi deixada de lado. Taí, primeira resolução de ano novo (se o mundo não acabar antes). Talvez agora eu esteja num bom momento para apreciar a narrativa de Bolaño. Li os artigos linkados e, realmente, são muito bons para reavivar a memória e o interesse no livro.
      Boa leitura 🙂

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