“Macunaíma”, a obra-prima de Mário de Andrade, mergulha nas raízes culturais e folclóricas do país.

    Nesta narrativa, acompanhe as aventuras do anti-herói preguiçoso e astuto, Macunaíma, em sua jornada pelo coração da Amazônia e pelas metrópoles do Brasil. Com uma mistura de mitologia indígena, folclore, humor e crítica social, esta obra é icônica.

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    Com sua linguagem inovadora e estilo marcante, Mário de Andrade transporta os leitores para um mundo de fantasia e realidade entrelaçadas, explorando questões de identidade nacional, colonialismo e transformação cultural. Prepare-se para se apaixonar por personagens excêntricos, reviravoltas surpreendentes e uma prosa que captura a alma do Brasil.

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    “Macunaíma” não é apenas uma obra literária; é um convite para explorar a riqueza e diversidade do Brasil, suas contradições e encantos, tudo embalado em uma narrativa que transcende o tempo. Se você busca uma leitura provocativa, não pode deixar de conhecer “Macunaíma” de Mário de Andrade. Pensando nisso, fizemos uma seleção de 8 trechos de Macunaíma, com comentários para te ajudar a entender essa grande obra da literatura brasileira. Confira:

    Trecho 1 – Nascimento e infância

    No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.

    Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:

    – Ai! que preguiça!…

    e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murua a poracê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.

    Neste trecho inicial de “Macunaíma”, Mário de Andrade apresenta o nascimento e a infância do protagonista de maneira singular, introduzindo-o como um herói nascido no coração do mato-virgem, filho do medo da noite e do silêncio profundo da natureza. A narrativa já estabelece elementos que serão recorrentes na história, como a associação com o folclore e a cultura indígena.

    Macunaíma é descrito como uma criança feia e peculiar desde o nascimento, sendo sua primeira peculiaridade o fato de permanecer em silêncio por mais de seis anos. Esse comportamento introvertido é contrastado com suas travessuras e ações incomuns, como decepar cabeças de saúva e ganhar dinheiro quando necessário.

    A caracterização do personagem é marcada por sua preguiça, esperteza e irreverência, mostrando-o como alguém que desafia as convenções sociais e familiares. Seu comportamento perante as mulheres e os mais velhos revela um aspecto de rebeldia e desafio às normas estabelecidas, enquanto sua participação nas danças religiosas da tribo sugere uma ligação com suas raízes culturais.

    Esse trecho inicial estabelece uma atmosfera intrigante e misteriosa, convidando o leitor a embarcar em uma jornada extraordinária com um personagem que encapsula as contradições e complexidades da identidade brasileira. Mário de Andrade utiliza uma linguagem simples e direta para retratar a vida de Macunaíma, criando um vínculo imediato entre o leitor e o protagonista, que é ao mesmo tempo fascinante e enigmático.

    Trecho 2: Identidade e transformação social

    Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.
    Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante.
    Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
    Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
    — Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
    Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
    — Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!”

    Nesse trecho de “Macunaíma”, Mário de Andrade apresenta uma cena marcante que combina elementos do folclore brasileiro com a mitologia indígena e a crítica social. A linguagem é rica em imagens sensoriais e humor, características que permeiam toda a obra.

    A cena começa com Macunaíma e seus irmãos suados após um dia de trabalho, e Macunaíma decide tomar banho em um rio. No entanto, o rio está infestado de piranhas, o que torna o banho perigoso. Macunaíma então avista uma cova d’água no meio do rio, que parece ter sido feita pelo pé gigante de Sumé, um personagem mitológico.

    Macunaíma entra na cova e, ao sair, sua pele fica branca e seus olhos azuis devido ao encantamento da água, um reflexo do sincretismo cultural presente na narrativa. Seus irmãos tentam seguir seu exemplo, mas apenas Jiguê consegue se banhar na água encantada, ficando com a pele da cor do bronze novo. Maanape, por sua vez, só consegue molhar as palmas das mãos e dos pés, mantendo sua cor original, mas com essas partes vermelhas, simbolizando uma dualidade cultural.

    Essa passagem revela a habilidade de Mário de Andrade em entrelaçar elementos da cultura brasileira com questões mais amplas, como identidade e transformação cultural. O humor e a ironia presentes nas falas dos personagens adicionam profundidade à cena, enquanto a ambientação na natureza selvagem ressalta a relação entre o homem e seu ambiente.

    Trecho 3 – Evocação de certa formalidade…

    Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre-nos, entretanto, iniciar essas linhas de saudade e muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo – a maior do universo, no dizer de seus prolixos habitantes – não somos conhecidas por “icamiabas”, voz espúria, sinão que pelo apelativo de Amazonas; e de vós, afirma, cavalgardes ginetes ginetes belígeros da Hélade clássica; e assim sois chamadas. Muito nos pesou a nós, Imperador vosso, tais dislates da erudição porém heis de convir conosco que, assim ficais mais heroicas e mais conspícuas, tocadas por essa plátina respeitável da tradição e da pureza antiga. Mas não devemos desperdiçarmos vosso tempo fero, e muito menos conturbarmos vosso entendimento, com notícias de mau calibre; passemos, pois, imediato, ao relato de vossos feitos por cá.”

    Este trecho demonstra um estilo de escrita que é característico de uma época anterior, evocando formalidade e um certo tom pomposo. Vamos analisar mais detalhadamente:

    1. Estilo e tom formal: O trecho começa com uma frase que estabelece uma expectativa para o leitor, sugerindo que o conteúdo da carta pode ser surpreendente. A linguagem é rebuscada, com uso de expressões como “Cumpre-nos” e “missiva”, o que confere um tom cerimonioso e respeitoso.
    2. Referências geográficas e culturais: Há uma menção à cidade de São Paulo, caracterizada de forma irônica como “a maior do universo”. Além disso, há uma alusão à Grécia antiga ao chamar os destinatários da carta de “ginetes belígeros da Hélade clássica”, o que adiciona um elemento de erudição e humor ao texto.
    3. Ironia e humor: O autor utiliza ironia ao comentar sobre a nomenclatura das pessoas de São Paulo, que são chamadas de “Amazonas”, e dos destinatários da carta, que são comparados a cavaleiros da Grécia antiga. Essa ironia sugere uma crítica sutil ou um humor refinado.
    4. Propósito da comunicação: Apesar da introdução um tanto formal e irônica, o autor indica que o propósito da carta é compartilhar notícias ou relatos sobre acontecimentos locais. Ele afirma que não quer desperdiçar o tempo do destinatário com detalhes irrelevantes, mas sim passar diretamente ao relato dos “feitos por cá”.

    No geral, este trecho demonstra um estilo literário que utiliza uma linguagem elaborada e formal, mas também incorpora elementos de ironia e humor para transmitir uma mensagem ou narrar eventos específicos. Traz a ideia de que Macunaíma é uma obra que satiriza ou critica certos aspectos da sociedade ou da cultura, enquanto também oferece uma reflexão sobre identidade e tradição.

    Trecho 4 – Macunaíma e elementos folclóricos

    Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando, na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d‘água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d‘água. E a cova era que nem a marca dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco loiro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos tapanhumas. 

    Neste trecho de “Macunaíma”, Mário de Andrade apresenta uma cena envolvendo o protagonista, Macunaíma. Vamos analisar os principais elementos:

    1. Ambiente natural: A cena se passa em um ambiente natural, próximo a um rio infestado de piranhas. Isso cria um cenário de perigo e aventura, onde a natureza é retratada como selvagem e imprevisível.
    2. Elementos míticos e folclóricos: A descoberta de uma cova d’água na lapa do rio, que se assemelha à marca de um pé gigante, traz um elemento de mistério e magia à narrativa. A água da cova é descrita como encantada, pois está associada ao pezão do Sumé, que pregava o evangelho aos indígenas brasileiros. Esses elementos folclóricos adicionam profundidade e riqueza à história, conectando-a com as tradições culturais do Brasil.
    3. Transformação do protagonista: Macunaíma decide tomar banho na cova d’água encantada e, ao sair, sua aparência é transformada. Sua pele escura se torna branca e seus olhos escuros se tornam azuis. Essa transformação física simboliza uma mudança em sua identidade, tornando-o irreconhecível como um filho da tribo dos Tapanhumas. Essa mudança pode ser interpretada como uma metáfora para as transformações culturais e individuais pelas quais Macunaíma passa ao longo da história.
    4. Narrativa humorística e fantástica: A descrição do banho de Macunaíma e suas consequências é permeada por elementos de humor e fantasia. A ironia está presente na ideia de que a água do rio é encantada e na forma como a transformação do protagonista é retratada.

    No geral, este trecho de “Macunaíma” encapsula várias das características da obra, incluindo sua mistura de elementos folclóricos, humor, aventura e crítica social, enquanto retrata a jornada do protagonista em busca de sua identidade e destino.

    Trecho 5 – A vida urbana de Macunaíma

    “A inteligência do herói estava muito perturbada. Acordou com os berros da bicharia lá embaixo nas ruas, disparando entre as malocas temíveis. E aquele diacho de sagui-açu que o carregara pro alto do tapiri tamanho em que dormira… Que mundo de bichos! (…) A inteligência do herói estava muito perturbada. As cunhãs tinham rido ensinado pra ele que o sagui-açu não era saguim não, chamava elevador e era uma máquina. De-manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados berros cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso não, eram mas cláxons campainhas apitos buzinas e tudo era máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles cevrolés dodges mármons e eram máquinas. Os tamanduás os boitatás as inajás de curuatás de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes chaminés… Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina!”

    Neste trecho de “Macunaíma”, Mário de Andrade explora a perspectiva do protagonista sobre a vida urbana e a tecnologia emergente. A inteligência do herói está confusa e perturbada ao acordar em meio ao caos das ruas, onde os sons dos animais são interpretados como ruídos de máquinas.

    O autor utiliza uma linguagem poética e surreal para expressar a desconexão de Macunaíma com a realidade urbana. As cunhãs (mulheres) que o cercam tentam ensinar-lhe que os sons e criaturas que ele ouve não são naturais, mas sim produtos da tecnologia moderna, como elevadores, cláxons, buzinas e outros dispositivos mecânicos.

    Essa passagem evidencia a crítica social de Mário de Andrade em relação à rápida urbanização do Brasil e à perda da conexão com a natureza e as tradições culturais. Macunaíma, como representante do homem simples do interior, é confrontado com um ambiente urbano estranho e alienígena, onde tudo é reduzido a máquinas e ruídos mecânicos.

    Essa análise revela como Mário de Andrade utiliza a figura de Macunaíma para explorar questões mais amplas sobre a identidade brasileira, a modernização e os conflitos entre o rural e o urbano, proporcionando uma reflexão profunda sobre a sociedade e a cultura do Brasil.

    Trecho 6 – Contrastes

    “Então resolveu ir brincar com a Máquina para ser também imperador dos filhos da mandioca. Mas as três cunhãs deram muitas risadas e falaram que isso de deuses era uma gorda mentira antiga, que não tinha deus não e que com a máquina ninguém não brinca porque ela mata. A máquina não era deus não, nem possuía os distintivos traços femininos de que o herói gostava tanto. Era feita pelos homens. Se mexia com eletricidade com fogo com água com vento com fumo, os homens aproveitando as forças da natureza.

    (…) a máquina devia ser um deus de que os homens não eram verdadeiramente donos só porque não tinham feito dela uma Iara explicável mas apenas uma realidade do mundo. De toda essa embrulhada o pensamento dele (Macunaíma) sacou bem clarinha uma luz: Os homens é que eram máquinas e as máquinas é que eram homens. Macunaíma deu uma grande gargalhada.”

    Neste trecho de “Macunaíma”, Mário de Andrade explora a relação entre o protagonista e a tecnologia, em especial a máquina, de uma maneira que reflete uma crítica social e uma reflexão sobre a natureza humana. Vamos analisar os principais pontos:

    1. Contraste entre mito e tecnologia: Macunaíma, inspirado por sua vontade de poder e domínio, decide brincar com a Máquina para se tornar imperador dos filhos da mandioca, uma referência aos povos indígenas do Brasil. No entanto, as cunhãs desmistificam a ideia de divindade, dizendo que a máquina não é um deus, mas sim uma criação humana que pode ser perigosa e letal. Isso estabelece um contraste entre o mito e a realidade tecnológica.
    2. Reflexão sobre a natureza da máquina e dos homens: Macunaíma reflete sobre a natureza das máquinas e dos homens. Ele percebe que, embora as máquinas sejam feitas pelos homens e utilizem as forças da natureza, eles próprios podem ser vistos como máquinas, já que também são produtos do ambiente e das influências externas. Essa reflexão sugere uma inversão de papéis entre humanos e máquinas, questionando a ideia de controle e poder.
    3. Crítica social: A percepção de Macunaíma sobre a relação entre humanos e máquinas pode ser interpretada como uma crítica social ao avanço tecnológico e à dependência excessiva da sociedade moderna em relação à tecnologia. A máquina é vista como uma entidade que, apesar de criada pelos humanos, pode controlá-los e transformá-los, questionando assim a noção de autonomia e liberdade.
    4. Humor e ironia: A conclusão de Macunaíma, seguida por uma grande gargalhada, indica uma resposta humorística e irônica à sua própria reflexão. Essa reação sugere uma aceitação da ambiguidade e complexidade da condição humana e tecnológica, ao mesmo tempo que ressalta o caráter lúdico e irreverente do protagonista.

    No geral, este trecho de “Macunaíma” oferece uma reflexão profunda sobre a relação entre humanos e tecnologia, enquanto apresenta uma crítica social sutil e um humor característico da obra. Ele nos convida a questionar nossa própria compreensão da tecnologia e seu impacto na sociedade e na identidade humana.

    Trecho 7 – A política

    “Enfim, senhoras Amazonas, heis de saber ainda que a estes progressos e luzida civilização, hão elevado esta grande cidade (São Paulo) os seus maiores, também chamados de políticos. Com este apelativo se designa uma raça refinadíssima de doutores, tão desconhecidos de vós, que os diríeis monstros. Monstros são na verdade mas na grandiosidade incomparável da audácia, da sapiência, da honestidade e da moral; e embora algo com os homens se pareçam, originam-se eles dos reais uirauaçus e muito pouco têm de humanos. Obedecem todos a um imperador, chamado Papai Grande na gíria familiar, e que demora na oceánica cidade do Rio de Janeiro – a mais bela do mundo na opinião de todos os estrangeiros poetas, e que por meus olhos verifiquei.”

    Neste trecho de “Macunaíma”, Mário de Andrade utiliza uma linguagem irônica e satírica para comentar sobre a civilização e os líderes políticos da cidade de São Paulo. Vamos analisar os principais elementos:

    1. Ironia e sátira: O autor faz uso de ironia ao descrever os políticos como uma “raça refinadíssima de doutores”, sugerindo uma crítica à classe política e à sua suposta sofisticação. Ele os chama de “monstros”, mas destaca características como audácia, sapiência, honestidade e moral, de forma sarcástica. A ideia de que esses políticos têm “muito pouco de humanos” reforça a crítica à sua distância em relação ao povo comum.
    2. Referências geográficas e culturais: O texto menciona a cidade do Rio de Janeiro como a sede do “imperador” ou “Papai Grande”, utilizando uma linguagem que sugere uma comparação irônica com uma monarquia, embora o Brasil seja uma república. Essa menção também adiciona um elemento de nacionalismo e regionalismo à narrativa.
    3. Estilo pomposo e formal: A linguagem utilizada é formal e pomposa, reforçando a ironia ao descrever os políticos como seres extraordinários e quase divinos. Isso cria um contraste entre a grandiosidade da linguagem e a crítica sutil embutida no texto.

    No geral, este trecho exemplifica a habilidade de Mário de Andrade em utilizar a sátira e a ironia para criticar aspectos da sociedade e da política brasileira, enquanto também oferece uma reflexão sobre identidade nacional e regionalismo. Ele apresenta uma visão crítica e humorística dos líderes políticos e da estrutura de poder, sugerindo uma distância entre eles e a realidade vivida pelo povo comum.

    Trecho 8 – Os sentimentos de Macunaíma

    “… Ci aromava tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza.
    Puxa, como você cheira bem, benzinho!
    que ele murmuriava gozado. E escancarava as narinas mais. Vinha um tonteira tão macota que o sono principiava pingando nas pálpebras dele. Porém a Mãe do Mato inda não estava satisfeita não e com um jeito de rede que enlaçava os dois convidava o companheiro pra mais brinquedo. Morto de soneira, infernizado, Macunaíma brincava para não desmintir a fama só, porém quando Ci queria rir com ele de
    satisfação:
    -Ai! que preguiça!…”

    Neste trecho de “Macunaíma”, Mário de Andrade descreve uma cena onde o protagonista, Macunaíma, está envolvido em uma situação amorosa com Ci, personagem feminina. Vamos analisar os principais elementos:

    1. Sensações e atmosfera: A descrição inicial enfatiza os sentidos de Macunaíma, especialmente o olfato, indicando que o aroma de Ci é tão agradável que o deixa tonto e sonolento. Essa ênfase nos sentidos cria uma atmosfera sensual e envolvente na cena.
    2. Interação entre os personagens: Macunaíma expressa seu prazer pelo aroma de Ci de maneira carinhosa e íntima, chamando-a de “benzinho” e elogiando seu cheiro. A interação entre eles é marcada por um jogo de sedução e intimidade, sugerindo uma conexão profunda entre os dois.
    3. Humor e ironia: O trecho apresenta elementos de humor e ironia, especialmente na forma como Macunaíma reage à situação. Apesar de estar sonolento e cansado, ele continua brincando com Ci para manter sua fama de não negar diversão. Sua resposta “Ai! que preguiça!” quando Ci quer rir com ele demonstra uma certa leveza e descontração na interação entre os personagens.
    4. Simbolismo: A figura da “Mãe do Mato” que enlaça os dois pode ser interpretada como uma representação da natureza ou da própria essência selvagem e instintiva dos personagens. Essa conexão com a natureza reforça o aspecto primitivo e visceral da relação entre Macunaíma e Ci.

    No geral, este trecho retrata uma cena íntima e sensual entre Macunaíma e Ci, caracterizada por uma mistura de romance, humor e uma conexão com a natureza. A linguagem vívida e sensorial utilizada por Mário de Andrade cria uma atmosfera envolvente que transporta o leitor para o mundo dos personagens, enquanto também oferece insights sobre suas personalidades e dinâmicas de relacionamento.

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    Imagem em destaque: Cena do filme – 1969

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