A Trégua, do escritor uruguaio Mario Benedetti (1920 – 2009) é um livro em forma de diário onde lemos as pequenas e profundas anotações de Martín Santomé que, às vésperas dos cinquenta anos e consequentemente de sua aposentadoria, passa a compartilhar seus anseios com o papel.

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    O livro em si é curto, mas é grande em comparação com a pequenez da história, o que geralmente quer dizer – quando se trata de bons escritores – que será um enredo desenvolvido ao extremo, um mesmo assunto desdobrado das mais variadas maneiras, expondo novos pontos de vista e formas de pensar, tudo bem aproveitado, nada jogado fora.

    A Trégua

    A brevidade da vida

    Com a aposentadoria despontando no horizonte, Santomé se pega imaginando como será a vida a partir daí. Acostumado ao trabalho mecânico no seu escritório de contabilidade, Martín vê-se apreensivo com a proximidade duma nova fase que encerra em si a surpresa e a ansiedade que acomete todas as transições de nossa passageira visita à Terra.

    A brevidade da vida útil e o contraste sentimental que nos impele a viver eternamente é parte da lista de preocupações constantes que é posta da cadernetinha usada como diário.

    A respeito de preocupações, Santomé faz uma analogia com este tema e seu trabalho quando descreve as duas formas de atividades feitas no escritório, as automáticas, que todos estão cansados de fazer e que são realizadas de olhos fechados; e as novas petições, que exigem mais atenção e um estado mental ativo, diferente do outro tipo.

    Paradoxos…

    Em relação às duas espécies de atividades, Martín deixa nas entrelinhas que viver com o cognitivo operando incessantemente diante da imensa quantidade de porquês que nos são delegados, assim como as inúmeras pilhas postas com estardalhaço nas várias mesas de seu escritório, é um estilo nobre de vida em detrimento do estado mecânico e passivo.

    Portanto, o paradoxo apresentado logo a seguir é que independente da força de nossa crítica perante deus, ou a razão de todos os desgostos pelos quais passamos (desgostos estes que Martín não considera vida, pois ele mesmo diz que quando alguém ama a vida e não quer se despedir dela. Ou seja, em algum momento da vida a pessoa se refere aos prazeres e não aos sofrimentos ou o pacote que engloba ambos) o saldo final será como se tivéssemos passados desapercebidos, passivos, desperdiçado nossa chance ao poder reivindicar uma melhor existência.

    Cadê a esperança?

    Por fim, a história de A Trégua é extremamente curta, não vale a pena saber mais do que o já citado, as surpresas desta pequena história junto ao universo crítico do diário em questão nos permite ter, nas quase 200 páginas, a ótima companhia de Martín, que acaba nos consolando a respeito da falta de esperança que mais cedo ou mais tarde nos acometerá.

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