Em Vida, Paulo Leminski apresenta ao leitor 4 biografias: Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trotski

    Meu primeiro contato com Paulo Leminski e com biografias foi através de Vida. Os dois me surpreenderam e fiquei desejoso de ter mais do mesmo. As 4 biografias (Cruz e Souza, Bashô, Jesus e Trotski) são de capítulos curtos e que abordam uma única faceta da personalidade ou obra do biografado.

    A biografia de um Jesus mais humano

    Comecei por Jesus porque estudei a Bíblia por anos, logo seria o personagem de mais empatia. As biografias são na verdade uma espécie de ensaio, e Paulo Leminski tem total liberdade para caçoar e fazer as mais impossíveis analogias, o que dá brilho e singularidade perante a outras biografias. É como se fôssemos os interlocutores, e ouvíssemos um delicioso relato sobre as quatro personalidades. O que não abre mão da linguagem técnica de cada assunto (literário, religioso e histórico, respectivamente) como também da imensa concisão de informações presentes em cada parágrafo.

    O olhar sobre a vida de Jesus não é o que a grande maioria tem por ele. Aqui, Leminski nos mostra um Jesus mais humano, a personalidade que lançou margem para uma das maiores mudanças dos milênios que o sucederam. Há um capítulo que achei fenomenal que é sobre a relação de Jesus para com as mulheres, um Leminski feminista apóia muitas causas em voga e não deixa pedra sobre pedra daquelas que usariam para apedrejar a adúltera.

    A biografia de Trótski

    Após a excursão inusitada de um novo olhar sobre Jesus, embarquei na Rússia de Trótski. O que me soou mais interessante dentre a enxurrada de descobertas, foi a história da Rússia desde os seus primórdios, e a comparação desta com a história dos Irmãos Karamazov. Nessa parte também consta a formação intelectual dos outros dois grandes nomes da Revolução Russa e descendente, Lênin e Stálin; o encontro de Lênin e Trotski e suas divergências.

    A biografia de Cruz e Souza (a mais charmosa)

    Em Cruz e Souza (a mais charmosa das quatro) fiquei cabisbaixo por ser uma biografia de cerca de apenas 70 páginas. Já no início temos um capítulo chamado Cruz e Souza e o Blues, o que já me deixou fervilhando de entusiasmo. Além da vida icônica que foi essa anormalidade social em Cruz e Souza, há espécies de análises dos poemas, e depoimentos de autores famosos a respeito de Cruz e Souza. Há um trocadilho genial apresentado sobre os pais do autor preto, já que ambos possuem o mesmo nome. Essa primeira biografia é toda fúnebre, já que a vida do poeta foi um constante embate contra o ódio (me recuso a usar o termo preconceito). Há pequenos relatos da doença mental da esposa de Cruz, e o poema que aparece com mais freqüência na biografia é o que retrata da loucura.

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    A biografia de Bashô

    Por último, deixei Bashô, cujo nome me era totalmente desconhecido. Foi a biografia mais complicada das quatro, tudo era muito novo, diferente e inusitado. Eu não sei quase nada sobre a cultura oriental, e li muito vagarosamente, e a releitura de vários parágrafos tornou-se constante. Desse modo não me arriscarei a dizer algo sobre o “poeta” japonês mais famoso. Mas ele é uma figura tão importante pra Leminski que é citado nas outras biografias, e quando se procura por haikai (a modalidade de escrita japonesa que se assemelha a um dístico pelo pequeno tamanho) no Google, aparece Leminski como indicação de pesquisa.

    Se há algum interesse em alguma das 4 personalidades, há a indicação da leitura pela rica variedade de informação contida no pequeno mas denso livro. Se você não se interessa, ainda há a indicação pela amável companhia de Leminski.

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