Leitura errada: Reparação, Ian McEwan

Eu “paquero” Ian McEwan há um certo tempo. Tudo começou com a indicação de um amigo. Não lembro de suas palavras, mas o que ficou martelando em minha cabeça era que eu não poderia demorar para ler alguma coisa de Ian McEwan. E então eu comecei por “O Jardim de Cimento”; e comecei certo.

Em O Jardim de Cimento temos uma narrativa breve, a história é pequena, possível de se ler numa “sentada só”. O livro é sobre crianças que perdem sua família e precisam lidar com o desamparo e o medo misturado com atitudes ingênuas, perigosas e macabras. É um excelente livro. Minha mãe, que dorme até no melhor filme de ação do mundo, que lê poucos livros, pegou O Jardim de Cimento da minha estante e devorou o livro em poucos dias e, claro, achou a história ótima.

Reparação (Ian McEwan): uma obra-prima

Enfim, voltemos a Reparação: dizem que é uma obra-prima, o melhor de Ian McEwan, mas eu tenho as minhas dúvidas. O livro é bom? É. Emociona? Muito. Mas em certo momento eu achei a história um pouco parada, principalmente em relação a primeira parte – que contém vários capítulos e cada um funciona como um conto perfeito – fiquei maravilhada, encantada! A cada final de capítulo eu pensava (licença para os palavrões): é isso, porra! Literatura é isso! Ian McEwan você é foda! Mas então, como toda boa emoção, uma hora ela passa e fica a serenidade. A segunda parte do livro me deixou um pouco confusa: cadê a personagem principal? Para que detalhar tanto essa guerra? Quero a primeira parte de volta e pra sempre!

Terminei o livro porque não consigo largar nada pela metade, mas foi uma leitura, a partir desse ponto, truncada, perdida, confusa. Quando o livro terminou, fiquei feliz, não pela história, mas porque acabou mesmo.

A vida pessoal influencia na sua leitura?

Eu acredito muito que nossa vida pessoal influencia demais na leitura de um livro. Um certo momento, pode ser melhor para um certo livro. E esse mesmo livro, se lido na hora errada, pode não ser bom – tudo se perde; se confunde; não há ritmo; tampouco entusiasmo, como se fosse uma orquestra totalmente desafinada com cada músico tocando uma música diferente.

Agora que terminei Reparação, que minha vida está mais calma, consigo ver desta forma. Se eu tivesse escrito esse texto assim que terminei o livro, seria muito diferente, eu iria dizer que Reparação é um livro totalmente confuso, que tinha tudo para ser perfeito, mas que o autor se perdeu no meio da história. Agora sei que quem se perdeu foi eu, quem estava atarefada, com a rotina tumultuada, era eu! Literatura é isso: jamais algo pronto capaz de provocar a mesma sensação, é tudo instável, imprevisível, mágico, assim como a vida.

Por fim, eu pedi desculpas ao livro hoje pela manhã, segurei-o como uma criança arrependida de estragar a boneca: Reparação, me desculpe, eu não estava pronta para você, não lhe dei atenção suficiente, li errado, mas vou reparar esse tremendo descaso, será possível?

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