Livro de estreia de Marina Grandolpho: “Maquinário feminino e outras conversas”

Em “Maquinário feminino e outras conversas”, Marina Grandolpho explora o poder dialógico de um eu-lírico feminino

Livro de estreia da professora e escritora paulista Marina Grandolpho , “Maquinário feminino e outras conversas” (102 páginas, editora Patuá) aborda, em 46 poemas, vivências tipicamente femininas a partir de um olhar afiado, sensível e crítico que partem da experiência da autora como mãe e feminista.

“Maquinário feminino e outras conversas” trata da condição da mulher e de mães em nossa sociedade: violadas e sobrecarregadas, apesar de tantos avanços; dos encontros e desencontros nos relacionamentos interpessoais; dos silêncios e silenciamentos que tanto comunicam; fora questões cotidianas tão atreladas à existência e os processos (de cura e de escrita, e às vezes de cura pela escrita) na vida de indivíduos.

“Os temas que trago no livro perpassam a minha existência, a existência da minha filha, a existência de tantas outras mulheres, mas ao mesmo tempo dizem respeito a todo mundo; além disso, a dor é um eixo condutor entre as temáticas – e não seria a dor uma condição humana, com a qual todos se identificam? Talvez tenha sido essa a maior motivação: dialogar com as pessoas por meio da sensibilidade que as dores nos causam”, justifica a autora. 

Alguns poemas foram rascunhados pela primeira vez ainda em 2008, muito antes de Marina ter o desejo de fazer sua escrita literária publicada. “A necessidade de escrever sobre coisas que estavam incontidas desde sempre urgia para mim, o livrar-se de todas essas coisas (sentimentos e sensações), o lidar com a dor, o extravasar. Talvez por isso tenha sido um longo processo”, relata.

Para Carla Guerson, a escrita de Marina denota essa urgência. “Não a urgência de quem esteve no fundo do poço, mas a de quem ainda está ali. De quem de vez em quando emerge para anunciar: eu estou aqui. Para respirar, para exigir, para denunciar”, frisa, ressaltando o poder de reflexão e identificação da poética construída pela poeta ao longo do livro. 

O silêncio e seus efeitos e causas formam a espinha dorsal da obra ao transformar a palavra em um ato existencial e essencial para esse eu-lírico marcadamente feminino, logo humano. “O livro que você tem em mãos brota do desalento. E se um dia você já esteve nesse lugar (e talvez estejamos todos), vai ser impossível não se identificar”, aponta Carla.

Um maquinário feminino dividido em cinco partes

Apesar do título fazer um aceno especial às mulheres, todas as pessoas são bem-vindas a conversa poética estabelecida pela autora, na qual encontrar-se-ão com angústias, silenciamentos e crises existenciais — perpassando temas como maternidade, violências de gênero, amor desencontrado, abandono, vazio, falta de inspiração. E, ao mesmo tempo, os leitores poderão deparar-se com o alento de (re)encontros bem-sucedidos ou com a sensação de livramento que vêm das decisões acertadas. Ainda que a poeta escreva sobre questões relacionadas à violência patriarcal e a exploração do trabalho de cuidado feminino, especialmente na primeira seção do livro, o corpo da obra se forma a partir de cinco partes, indo muito além desse escopo inicial, ainda que sempre em diálogo com ele. 

A primeira parte, “maquinário feminino”, que dá nome ao livro, trata de assuntos relacionados a um universo comumente vivenciado por mulheres e ao mesmo tempo convida quem está alheio a este cosmos a refletir sobre ele. A segunda seção, “encontros e desencontros”, aborda como relacionamentos amorosos podem ser complexos, ora promovendo que nos encontremos com nossos pares, ora nos desencontrando de pessoas que imaginávamos ser nossas parceiras. 

A terceira seção, “silêncios”, anuncia possibilidades para pensarmos como o silêncio pode transpor de modos diferentes as nossas vidas, coexistindo de forma angustiante e libertadora. A quarta seção, “observações cotidianas”, apresenta um olhar atento e reflexivo sobre o mundo que nos circunda, sobre questões relacionadas à nossa existência. Já a quinta e última seção, “processo”, faz referência ao próprio processo de escrita, como ele pode se dar tão singularmente, atravessado por dores, inseguranças e, até mesmo, falta de inspiração.

Sobre Marina Grandolpho

Marina Grandolpho nasceu e vive no interior de São Paulo. Formada em Letras pela UFSCar e doutora em Estudos Literários pela Unesp, atua como professora e escritora, é mãe e feminista. Possui textos publicados em revistas e portais literários, como Aboio, Ruído Manifesto, e mantém uma newsletter. Em 2022, publicou a zine independente “Por debaixo da carne sou palavra” e, recentemente, lançou seu primeiro livro, após longo período de trabalho, pela editora Patuá.

Suas principais referências literárias são nomes clássicos da literatura do século XX, sendo sua obra de estreia inspirada por poemas esparsos de Alice Ruiz e pelos livros “ Aos teus pés” de Ana Cristina César, “Redoma de vidro” de Sylvia Plath, e “Um útero é do tamanho de um punho” de Angélica Freitas. Além dessas grandes autoras, a poeta também cita Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade, Ana Martins Marques, Adília Lopes, Clarice Lispector, Cecília Meireles e Manuel Bandeira como parte de sua bagagem literária.

“Escrevo todo dia: anoto coisas que me acontecem e/ou me chamam a atenção, sonho, lembranças/ideias que me vêm à cabeça. E, então, quando há tranquilidade, paro e organizo essas anotações. Muitas delas se transformam em textos, que vão sendo mexidos e remexidos ao longo do processo de produzir algo”, relata Marina, que já tem o original do seu segundo livro, também de poesia, fechado. Além disso, tem se dedicado, nas frestas de um dia-a-dia atribulado, a dois projetos em prosa: um de contos e outro de novela. 

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