A leitura desse clássico norte-americano foi bem surpreendente. Só pelo título, original (“To kill a Mockingbird”) ou adaptado, não dá pra ter ideia da história, e eu cheguei bem sem saber do que se tratava.

    Harper Lee recebeu o prêmio Pulitzer por essa obra, que foi a única de sua carreira. O que é uma pena, pois o livro é ótimo. “O sol é para todos” (José Olympio, 2006) conta a história da cidade de Maycomb através da vida de dois irmãos, Jem e Scout (esta também atua como narradora), e seu pai, Atticus Finch.

    Os irmãos ainda são pequenos e inocentes no começo do livro, mas diversos acontecimentos alteram sua percepção de mundo, e a nossa também. A história se passa no sul dos Estados Unidos, em 1935, por isso, o tema da questão racial é muito forte e tratado de modo bastante realista, ainda que pela ótica infantil de Scout, que nem sempre percebe o que se passa.

    O livro me lembrou muito “Ratos e homens”, de John Steinbeck, que foi publicado em 1937, ou seja, dentro da mesma atmosfera em que os personagens de Harper Lee estão inseridos. Assim, temos um retrato das pessoas comuns, sem “maquiagem” hollywoodiana, o que me mostrou que conhecemos muito pouco da cultura norte-americana. À parte as grandes cidades e os ícones tipo exportação, percebemos que os Estados Unidos nos são totalmente desconhecidos, justamente porque acreditamos conhecê-los tão bem. “O sol é para todos” foi publicado em 1960, mas ainda tem muito para nos ensinar sobre respeito, igualdade, educação e justiça.

    Fica até difícil fazer uma resenha sem revelar demais e tirar parte da experiência, que é o elemento surpresa. Mas vale à pena acompanhar Jem e Scout e se espantar com o quanto uma cidadezinha de interior pode ser um universo tão complexo, perder as esperanças, só para recuperá-las poucas páginas depois e prender a respiração algumas vezes, como se um romance de formação fosse mais eletrizante do que muita história de aventura.

    Esse livro foi lido para a categoria de janeiro (um livro proibido) do desafio #instatocbookers2015. Nós temos um grupo no Skoob para debater as escolhas, apareçam por lá!

    Acho que só há um tipo de gente. Pessoas.

    (Página 245 da edição digital)


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