O prólogo do livro “Ei, professor”, de Frank McCourt, me pegou de surpresa, pois o autor conseguiu me transportar do estado de graça para o de angústia em poucas páginas. Achei isso o máximo e mergulhei profundamente no mundo do professor McCourt pensando constantemente “esse cara tem talento”.

Vejamos: uma criança que nasceu em Nova York, mas viveu até seus 19 anos em Limerick, na Irlanda, volta para os EUA com um diploma, com o qual pode ser professor. Porém resolve trabalhar numa empresa de carregadores, pois não se sente – ainda – preparado para o trabalho de lecionar. E quando tudo está indo bem, mesmo indo um pouco mal, ele tem a chance de “subir na vida”, “ter um cargo de liderança”, mas ele não aceita, pois chega o momento dele ser educador. Chuta o balde e vai (qualquer semelhança com a dona deste blog é mera coincidência).

Como eu serei um professor?

E chegando lá foi tomar um cafezinho? Não, foi tentar ser professor e ele realmente não sabia o que fazer. Como eu entro numa sala de aula? Como consigo a atenção dos alunos? Pratico um terrorismo barato com a caneta vermelha? Sou legal? Levo alguns alunos para a coordenação? Ou tento, de alguma forma, me aproximar deles?

McCourt fica com a última opção e vive diariamente a tentativa de se aproximar daqueles jovens rebeldes do subúrbio de Nova York. E então ele se desmonta, conta a sua vida, sua infância difícil, assume que não sabe de tudo e consegue, em migalhas, que alguns poucos alunos compreendam o seu papel ali. Mas ele não diz claramente qual é, mas fica evidente quando, tempo depois, ele reencontra alguns de seus alunos. Ganha um abraço, ganha um reconhecimento. E fica feliz. Mas também questiona o por quê.

A vida é uma grande caixinha de surpresa, hein, Sr. McCourt! Eu diria isso a ele, se vivo, apesar de soar tão óbvio e comum, mas quando há a identificação com o outro é isso que acontece, a gente fala do comum. E talvez ele balançasse a cabeça, concordando comigo.

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Quando o livro chega ao fim, o leitor ficará com aquela sensação: a vida é isto! A vida é simplesmente isto! Viver!

Frank McCourt não relata em detalhes suas aulas, mas fornece informações preciosas em cada história de sua vida profissional: algumas aulas sem sentido, algumas geniais e tantas outras simplesmente… aulas! E, junto com o relato dessas aulas, há o relato dos alunos, dos seus amigos e dele próprio sobre o seu passado. Ele mistura tudo isso numa espécie de fluxo de consciência (essa técnica é realmente fantástica quando bem usada), que o permite contar sua história e um pouco da história do ensino médico americano sem a ordem cronológica e em primeira pessoa.

Ei, professor! não tem um final surpreendente, como “e assim o cara irlandês conseguiu se tornar o melhor professor do mundo”. O livro não é isso! A obra é sobre alguém em busca da sua voz, da sua postura, do seu estado confortável perante a sociedade. E McCourt consegue. E a palavrinha mágica que resume sua vida é informada logo no início do livro: tenacidade, que, da primeira frase até a última, seu sentido vai se ampliando e ganhando forma, e corpo, e clareza. Tinha talento o escritor Frank McCourt! Ainda não li, mas acredito que ele ganhou o Prêmio Pulitzer com o livro As Cinzas de Angela merecidamente.

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3 Comentários

  1. Oi, Fran!!! Fiquei feliz demais quando encontrei seu blog, gosto muito de suas palavras (desde de seu 1º blog) me fazem viajar num outro mundo. Bjs

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