1ª edição do livro Monday or Tuesday, publicado pela Hogarth Press, editora de Virginia e Leonard Woolf

Um romance não escrito é o nome do conto que Virginia Woolf escreveu em 1920 e foi publicado em uma revista. Depois, no mesmo ano, o conto fez parte do livro “Segunda ou Terça”, uma coletânea de contos da autora.

Falar sobre o que não é escrito, ou escrever sobre o silêncio podem ser consideradas referências quando o assunto é Virginia Woolf, pois, nem sempre de uma forma explícita, esses dois elementos fazem parte de toda a sua obra.

O motivo: os seus personagens caminham sempre para algum tipo de inquietação, que não tem nome, que é difícil de enxergar, mais difícil ainda projetar em um texto com clareza e exatidão, porém, essa dificuldade, quando pensamos também na vida comum, lá está ela.

O que mora no silêncio?

Temos muito mais dias de inquietação do que podemos assumir, mas é esse silêncio dentro do peito que está na literatura quando feita muito além da inspiração e das técnicas literária. Afirmo isso porque em Virginia Woof há tudo isso, mas, o mistério da arte ainda está nas entrelinhas, naquilo que não conseguimos dizer, no que não está escrito, no silêncio.

Milan Kundera, no livro A Arte do Romance (p. 31) nos avisa que a literatura sempre foi como uma investigação do próprio eu. Assim, independente do estilo, da técnica, da qualidade (algo tão subjetivo), o que move a caneta no papel, construindo palavras frases, parágrafos, páginas, capítulos é, ainda e sempre, a curiosidade pelo mistério.

Pensamento e construção

Literatura tem a ver com pensamento e construção. O escritor imagina pequenas situações, cenas, diálogos, espaços da natureza e da cidade. Coloca um personagem ali, outro lá. Cria um ambiente de inquietação para que faça sentido os personagens se olharem, se conhecerem, se desentenderem, irem um ao encontro do outro por inúmeros motivos – amor, raiva, ódio, guerra, paz. Está tudo lá, sempre presente. E no conto Um romance não escrito, Virginia Woolf presenteia o leitor com esses primeiros momentos de sua literatura. Quando a cabeça, junto do papel e caneta desenham situações e personagens. É lindo.

“A vida é o que você vê nos olhos dos outros; a vida é o que as pessoas aprendem e, tendo aprendido, nunca, embora o tentem esconder, deixam de estar conscientes de – do quê? De que a vida é assim, ao que parece.” (p. 149)

Virginia Woolf se divertindo…

O conto é uma alegria literária. Virginia Woolf estava ali se divertindo, inventando uma história e também oferecendo para os leitores um presente sobre como era o seu processo criativo, a partir de uma narradora que brinca de adivinhar as ações das personagens, na mesma proporção que dá vida a elas.

No centro do conto está Minnie Marsh, uma moça sentada num transporte público que chama a atenção da narradora e, rapidamente, mergulha em um universo sobre as possibilidades de Minnie. Quem ela é, o que faz ali sentada, para onde vai, quem são seus amigos e parente? Ela cometeu um crime? São algumas perguntas que o conto traz. Porém a ação, de fato, mora justamente na narradora, Se Virginia Woolf ou não, mas uma narradora que está feliz por confabular histórias e ideias.

“Se eu cair de joelhos, se eu passar pelo ritual, com os antigos trejeitos, são vocês, ignotas figuras, são vocês que eu adoro; se abro os braços, são vocês que eu recebo, é você que eu puxo para mim – mundo adorável.” (p. 161)

Veja o vídeo sobre Um romance não escrito no canal Livro&Café

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