Das coisas que podemos fazer para nós mesmos: ler as poesias de Hilda Hilst. Após ler as mais de quinhentas páginas do livro “Da poesia”, da Companhia das Letras, é isso que sinto: um maravilhoso presente quando decidi mergulhar em suas poesias, algumas já conhecidas e outras que me pegaram pela primeira vez.

    Quando conheci a obra da autora, há uns dez anos , suponho, foi por meio das poesias. Me lembro que fiquei encantada com as poucas coisas que encontrei na internet e, depois desse primeiro contato, fiz o delicioso processo de me aproximar da escrita de Hilda Hilst.

    Edição publicada pela Companhia das Letras

    Desmontando o tradicional

    Em sua prosa poética, vi toda a força e originalidade de seu fluxo de consciência reinando. Em suas poesias, tive a oportunidade de conhecer uma autora tão moderna e ao mesmo desbravadora dos caminhos tradicionais. É assim a poesia de Hilda Hilst – que buscou, por meio de formas tradicionais (o soneto, o canto, a ode) revelar um eu-lírico muito além de qualquer ideal poético. E, desbravando sua poesia, descobri que ela também desmonta o tradicional, corrompe as regras e revela-se em cada poesia como uma escritora capaz de ser única em cada palavra que escolhe para construir e desconstruir seus temas.

    O amor, a vida e a morte. A família, a amizade, o cotidiano. As questões metafísicas e a busca por algo tão difícil de ser nomeado fazem parte das poesias de Hilda Hilst. Naquelas escritas no início de sua carreira, é mais simples reconhecer esses temas, mas, na medida em que suas publicações atravessam o tempo, é possível perceber como os temas se entrelaçam e criam uma atmosfera tão rica e tão difícil de se atingir a não ser pela poesia feita por alguém tão entregue e engajada com sua arte. Nada é tão simples em Hilda Hilst, assim como a vida não é.

    Caio F. Abreu e Lygia F. Telles

    Acredito que a organização do livro, que preocupou-se em trazer toda a obra poética em ordem cronológica, colabora para o envolvimento do leitor. E, sem dúvidas, os textos finais – posfácio, comentários de Caio F. Abreu, Lygia F. Telles e uma entrevista da autora, fecham o livro com a missão bem cumprida de aproximar essa figura tão mítica aos leitores.

    Certa vez ela disse: “fico besta quando me entendem”, porque, apesar de produzir obras de qualidade inquestionável, seus temas perpassam o que há de mais belo & sujo &  verdadeiro no ser humano. É difícil encarar e também não é simples compreender o ritmo e as nuances de suas construções. Mas, para aqueles que gostam do prazer da boa poesia, ler Hilda Hilst pode ser uma das melhores escolhas que se faz na vida.

    Ela ficava besta, eu fico em um estado de contemplação constante e sempre digo sem medo do exagero: Hilda Hilst é uma das maiores escritoras e poetas que temos no Brasil e no mundo.

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