Com grande empolgação que me lancei à leitura de Príncipe Lestat e os reinos de Atlântida, originalmente publicado em 2016 e lançado, no Brasil, pela Rocco em 2018.

    Pensar em Anne Rice é reviver algumas memórias da infância e da adolescência de muitas e muitos de nós. Quem não se apaixonou por Lestat de Lioncourt e Louis de Pointe du Lac, interpretados por Tom Cruise e Brad Pitt, respectivamente, no filme Entrevista com o Vampiro, de 1994? A obra foi baseada no livro homônimo da escritora americana e contribuiu para criar uma legião de fãs das sagas sobre vampiros, muito antes do sucesso de Crepúsculo.

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    Assim, foi com grande empolgação que me lancei à leitura de Príncipe Lestat e os reinos de Atlântida, originalmente publicado em 2016 e lançado, no Brasil, pela Rocco em 2018.

    No livro, que faz parte das Crônicas Vampirescas, vemos Lestat, agora o novo Príncipe dos Vampiros, tentando governar, em paz, os mortos-vivos espalhados pelo mundo todo. Entretanto, ele e sua corte se debatem com uma presença constante, misteriosa e ameaçadora: Amel, o espírito que anima e liga toda a comunidade vampiresca. Este não é a única força sobrenatural, que dominou o corpo e a mente de Lestat, e que aparece como um personagem de destaque, mas há, também, outros seres que representam uma intimidação direta aos vampiros, além do arqui-inimigo do Príncipe, Rhoshamandes.

    Lestat precisa, então, aprofundar-se nas memórias de Amel, cada vez mais confusas e dolorosas:

    “Em meus sonhos, vi uma cidade tombar, afundando no mar. Ouvi gritos de milhares. Vi labaredas que refulgiam mais que os luzeiros no céu. E um abalo atingiu o mundo inteiro.” (p. 23).

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    Ao longo de mais de 400 páginas, vamos descobrindo que esse ser poderoso carrega consigo as histórias fascinantes de um reino antigo e lendário. Trata-se de Atalantaya, ou os reinos de Atlântida. Mencionada pela primeira vez por Platão (427 a.C. – 347 a.C.), em suas obras Timeu ou a Natureza e Crítias ou a Atlântida, Atlântida teria sido um paraíso, uma lendária ilha perdida no meio do oceano Atlântico, marcada por paisagens exuberantes, pela abundância e pelo grande progresso científico e artístico. Porém, por conta da cobiça de outros povos e de intensas batalhas, as terras da Atlântida foram punidas com desastres naturais e estremeceram violentamente, sendo engolidas pelas águas do oceano. Anne Rice, com grande riqueza de detalhes, apresenta-nos esse mito recontado e o entrelaça à lenda dos vampiros de uma forma muito coerente e atual, ao lado de questionamentos metafísicos pertinentes.

    O livro traz personagens e lugares já consagrados em outras obras de Rice, mas também introduz novas figuras que ajudam a reescrever o mito de Atlântica, por meio de suas observações, pensamentos e sentimentos. Vale ressaltar, também, o jogo que a autora faz entre passado e presente. Enquanto o enredo apresenta traços clássicos característicos do universo dos vampiros, que remontam ao século XVIII, como caixões estilosos, vestimentas, músicas eruditas e a própria corte – construída no Château de Lioncourt, nas montanhas da França –, há elementos atuais, como menções a Iphone, Ipad, computadores, celulares, trânsito pesado, enfim, à vida moderna e agitada das grandes cidades.

    Essa capacidade da escritora para “atualizar” a história consagrada de Lestat permite conquistar uma legião mais nova de leitores, que não acompanharam o início da saga do Príncipe na década de 1970. Além disso, a edição traz uma espécie de “guia” que ajuda a entender a história e linguagem dos mortos-vivos, como a “Breve história dos vampiros: Gênese do Sangue”, “Jargão do Sangue”, apêndices sobre personagens e lugares e, por fim, um guia informal das Crônicas Vampirescas.

    Essas orientações são bem-vindas, pois apesar de ser uma leitura muito agradável e envolvente, há uma quantidade enorme de informações e de personagens (os principais nomeiam os 33 capítulos do livro). Ademais, Rice mantém sua capacidade de escrever um bom suspense, mas, em alguns momentos, parece se perder no excesso de expectativas e a leitura tende a se tornar confusa e mais lenta, o que deixa os leitores mais ansiosos um pouco decepcionados.

    Apesar dessa pequena crítica, ter em mãos mais uma obra da Anne Rice, que mantém o fôlego e a criatividade aos 76 anos, é muito emocionante! Ao reviver a mitologia e o charme vampirescos, trazendo marcas consagradas de uma escrita gótica e sensual, além de elementos dignos de ficção científica, a escritora vai além. Ela reescreve o passado dos vampiros e deixa, nas palavras de Lestat, algumas reflexões importantes, como a necessidade de prosseguir pelo e por meio do amor:

    “Amar de verdade qualquer pessoa ou coisa é o início da sabedoria de amar todas as coisas. É preciso que seja assim. Tem que ser assim. Creio nisso e, no fundo, não acredito em nada além disso.” (p. 470).

    Não é lindo? Vida longa à corte de Lioncourt!

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