“Misto Quente”, de Charles Bukowski, é uma obra que mergulha de maneira crua e desassossegada nas entranhas da vida urbana, retratando os infortúnios e as aspirações de personagens marginais em um cenário marcado pela brutalidade e decadência. Nesta narrativa visceral, o autor despe o cotidiano de seus protagonistas, revelando suas lutas, vícios e desilusões, enquanto conduz o leitor por um mundo repleto de contrastes e emoções cruas.

    “Quando a verdade de outra pessoa fecha com a sua, e parece que aquilo foi escrito só para você, é maravilhoso.”

    Charles Bukowski

    Charles Bukowski (1920-1994) foi o maior inventor de anti-heróis no meu pequeno mundo literário. Ninguém melhor que ele construiu personagens tão decadentes, sujos, errados e extremamente simpáticos. Uma simpatia que não vem por ser agradável, uma simpatia pela autenticidade e coragem, o que me agrada muito, afinal, neste mundo tão moderno onde o produto vendido é mais importante que o conteúdo, encontrar no meio da multidão alguém capaz de uma frase original é como localizar uma agulha no meio da caixa gigante de retalhos da avó.

    Misto-quente

    Nascido na Alemanha em 1920, filho de um soldado americano, viveu desde os 3 anos de idade nos Estados Unidos, foi muito pobre e muito bêbado. Aos 24 anos começou a publicar seus trabalhos literários: contos e poesias, mas não vivia de literatura, trabalhava nos Correios. Muitos comparam sua literatura a de Jack Kerouac, mas Charles Bukowski não fez parte da geração beat, o termo geralmente utilizado para chamá-lo é “o último escritor maldito“, em referência aos escritores da época da “grande depressão americana“. Teve leucemia e morreu em 1994 após terminar de escrever Pulp

    Um romance pós-crise

    No romance Misto-quente (L&PM Pocket, tradução de Pedro Gonzaga), o personagem principal é Henry Chinaski, um alemão que vive nos subúrbios dos Estados Unidos, é pobre, tem um pai autoritário, uma mãe passiva, muitas espinhas e é virgem. E se não bastasse tem grande dificuldade em conviver com seus amigos de escola e seus vizinhos, e um dos motivos desse bloqueio social é seu jeito explosivo, sua postura relaxada e sua incrível capacidade de fazer inimizades.

    As 316 páginas de história voam velozes, culpa da narração forte de Bukowski que, em primeira pessoa, traz o leitor rapidamente ao universo do personagem principal, nos sentimos parte dele e entendemos o motivo que o leva a ser tão bruto, como uma pedra que foi esquecida no meio de um campo de batalha.

    O personagem principal de Misto-quente é alguém solitário que tenta entender o que ele está fazendo neste mundo, para onde ele tem de ir? Mas por que tem de ser para o lado de lá? Henry Chinaski busca liberdade, mesmo sabendo que esse desejo é uma utopia, mas é a busca dos bravos, dos valentes, dos inconformados, daqueles que não se deixam prender pelo simples conforto de fazer parte da manada.

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