Para quem é feita a política? E as leis? Para quem é feita? Para quem é feita a Ciência? E as descobertas espaciais? Para quem é feito o estudo das terras, plantas, rochas e oceanos? Para quem são feitos os testes de materiais em construções civis? Para quem são feitos os estudos do corpo humano? Suas funções vitais interessam a quem? Para quem são criadas as vacinas? A resposta é: para os seres humanos.

Todo conhecimento produzido até hoje em nossa sociedade tiveram um único ponto de partida: os seres humanos.  Não visam às máquinas, às construções ou aos robôs. Visam à vida dos seres humanos.

E como entender as necessidades dos seres humanos? E como compreender os motivos que nos levaram a olhar para o universo e criar foguetes? E como compreender o que nos fez olhar a fundo uma célula e, a partir dela, descobrir as atuais possibilidades de cura das mais diversas doenças?

As perguntas nos movem: questionamento e reflexão

“Nós queremos uma garotada que comece a não se interessar por política.”

frase do atual presidente Jair M. Bolsonaro, durante a cerimônia de posse do Ministro da Educação

As perguntas nos movem. É da natureza humana o questionamento e a reflexão. E isso não é possível sem as Ciências Humanas, pois são elas que movimentam as questões fundamentais do ser humano, do passado ao futuro, das mais elementares às mais complexas. Inibir esse conhecimento é mutilar as possibilidades de crescimento científico e intelectual de um país.

E isso é muito grave.

Limitar uma pessoa a apenas decodificar a língua portuguesa e aprender a fazer contas é atrofiar o cérebro, que nasceu para o desenvolvimento, que nasceu para criar, para desvendar e descobrir. É infinitamente pouco para a potencialidade do ser humano.

Os estudos da área da educação há muito apontam para a necessidade de se criar na escola estratégias e situações desafiadoras para que os alunos possa justamente desenvolver o raciocínio e, principalmente, exercitar sua criticidade.

É na construção de argumentos que a maior habilidade humana é trabalhada: pensar, organizar ideias, defender pontos de vista, comparar, analisar, entre tantas outras habilidades. Essa construção está intimamente ligada ao conhecimento das humanidades, ou seja, do ser humano e seu lugar no mundo, do ser humano e suas relações com seus pares, do ser humano e seus desejos, anseios, sonhos. E, também, da relação do ser humano com seus desequilíbrios, impulsos, sombras e conflitos.

A filosofia, a sociologia, a psicologia, a comunicação, a linguística, o direito, a literatura entre tantas outras áreas do conhecimento são fundamentais para a construção de um ser humano íntegro e justo e, portanto, de um país igualmente íntegro e justo, afinal, o que é um país se não as pessoas nele vivem? Para que são criadas as leis, planos e ações governamentais se não para o benefício de seu povo?  Voltamos ao início deste texto, com as mesmas perguntas. E acrescento: onde está a humanidade em um governo que não quer pensar em seres humanos?

Explicar o óbvio

O desgaste em que todos nos encontramos nesse momento de nosso país é justamente ter de explicar algo tão óbvio e elementar.

Os cortes em educação, cultura, arte, reflexão, pensamento crítico não irão resultar em mais emprego ou aumento do produto interno bruto. Resultará, ao contrário, em um povo empobrecido, calado, incapaz de analisar e, menos ainda, de reivindicar por qualidade de vida. E enquanto o povo é domesticado dessa forma, o Brasil caminha para um estado de extrema pobreza.

Parece um cenário sombrio e assustador minuciosamente arquitetado para o domínio dos que querem manter os seres humanos escravizados na pobreza do pensamento, reservando lucros e demais vantagens para um grupo seleto. Sim, parece um cenário sombrio e assustador. E de fato é.

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Ciências Humanas e a luz do conhecimento

Nesse cenário, porém, esqueceu-se de incluir (talvez inclusive pela falta dos estudos nas próprias Ciências Humanas) o fato de que seres humanos são seres feitos para a luz. E não me refiro a nada transcendental aqui. Refiro-me à luz do conhecimento. O ser humano possui potencialidades a serem desenvolvidas nas mais incríveis situações.

A reflexão é parte do ser humano, assim com a necessidade da narrativa e da poesia. Assim como a necessidade da comunicação. Assim como a necessidade de transformação de sua realidade.

Ainda nos sentimos todos atordoados diante de tantas confusões, revelações e despropósitos, é compreensível, faz parte do processo todo. Mas é certo que há algo de vibrante no ser humano, talvez seja algo que tenha se mantido pela necessidade de sobrevivência ou de preservação de sua espécie. Mas há algo que vibra dentro de cada um de nós e esse algo é incapaz de se calar.

Foto: Mídia Ninja

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2 Comentários

  1. Belíssima reflexão. Muito didática e consciente do atual momento em que passamos.

  2. Mario Francisco Moreira on

    Muito bom texto. Qualquer obstáculo contra o conhecimento, será sempre repudiado.Seja qual for , os governantes sempre vão querer que o povo nunca saiba dos seus direitos…cade as aulas de OSPB e EMC?
    Parabens Bianca.

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