A distopia é vista por muitos como a irmã gêmea do mal. Se a utopia é o sonho mais doce da humanidade em construir um mundo melhor para se viver, a distopia é, consequentemente, a representação de tudo de ruim que pode acontecer.

Mas, como nem tudo é tão simples quanto parece, é preciso olhar com mais calma para este conceito. Desta forma, a gente evita de sair por aí reproduzindo as coisas sem pensar. Certo?

Então vamos saber mais sobre as distopias da ficção, sua influência na sociedade e, também, o que ela representa no mundo de hoje.

Significado de distopia

Etimologicamente, distopia vem do grego, assim como sua irmã gêmea do bem. DIS significa “anormal”, “patológico” ou “o que não funciona bem”, e TOPIA quer dizer “lugar”. Assim, esta palavra pode ser compreendida como “lugar anormal“, “lugar patológico” ou “lugar que não funciona bem“.

É possível, ainda, interpretar distopia como “uma forma distorcida de lugar” ou “uma organização social problemática“.

O que é distopia?

A distopia não é uma anti-utopia. Mas, em termos pedagógicos, é importante colocar esse conceito ao lado de seu irmão. Por meio do contraste entre eles podemos compreender melhor os sentidos que este conceito pode ter.

Bem, como já vimos aqui na Livro & Café, a utopia pensa um outro mundo que seja o melhor possível e usa essa visão referencial para criticar a realidade tal qual é no presente. A distopia, em contrapartida, faz outro caminho, pois, a partir de uma análise da realidade contemporânea, localiza aspectos que são problemáticos que podem culminar em uma situação crítica no futuro.

Enquanto a utopia é positiva, emancipatória e confiante no futuro, mostrando um horizonte para onde caminhar, a distopia é profundamente crítica, insubmissa e assombrosa, alertando-nos para um futuro em que as coisas deram muito errado.

Se a utopia joga luz em possibilidades positivas, a distopia se debruça sobre as sombras, observando os aspectos negativos.

Além disso, essa vertente literária expressa o sentimento de impotência e desesperança do ser humano moderno, da mesma maneira que as utopias expressam o sentimento de autoconfiança e esperança do homem pós-medieval.

Principais características da distopia

  • crítica profunda;
  • inconformidade com uma realidade;
  • é impressionante;
  • é anti-autoritária;
  • possui uma função problematizadora.

A distopia surgiu na literatura no início do século XX, justamente em um momento em que o capitalismo entrou em uma fase mais agressiva: imperialismo, guerras, militarismo despontaram como experiências traumáticas para a sociedade. A distopia literária foi um dos primeiros produtos culturais a indicar tendência despóticas, genocidas e repressivas da sociedade.

Em suma, a distopia produz uma imagem do futuro. Tal imagem é fruto da compreensão crítica profunda do presente, com uma narrativa histórica a partir da perspectiva dos vencidos.

Por isso, esta linha literária se ramifica em, pelo menos, três.

Como aviso de incêndio

A distopia pode ser compreendida como um aviso sobre o que pode acontecer se determinados traços sociais problemáticos não forem controlados. As histórias funcionam como uma espécie de advertência, cujos resultados no leitor e na sociedade variam bastante. Produto de uma análise crítica da sociedade, a popularidade de determinadas obras também dizem muito sobre as questões mais sensíveis de uma época.

O livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood, por exemplo, foi lançado em 1985; no entanto, figura nas principais listas de mais vendidos nos Estados Unidos após a eleição de Trump. No Brasil, desde o lançamento da nova edição pela Rocco em 2017, o livro tem ganhado milhares de leitores. O sucesso do livro tem tudo a ver com a ascensão de governos conservadores que possuem lideranças machistas e que incentivam o fundamentalismo religioso cristão.

Como pessimismo ativo

De acordo com a sabedoria popular, sempre tem aquele momento em que a água bate na bunda. Esse é o sentido do pessimismo ativo: algo que impulsiona a ação. É o alerta que desperta muitos para fazer algo realmente importante para que as coisas não cheguem ao extremo.

Ao exagerar uma situação de opressão vivida no presente, a distopia pode despertar, em um futuro próximo, a reação dos que seriam os vencidos. Esse tipo de ficção serve como um grande letreiro luminoso: “VAI DAR MERDA”.

O pessimismo ativo serve para criticar, inclusive, os desdobramentos preocupantes dos projetos utópicos, salientando pontos questionáveis nos planos de um futuro melhor para a humanidade.

Como desesperança

A principal crítica feita à distopia utiliza seu próprio método de análise contra ela mesma: alerta para o desgaste do caráter assombroso desse tipo de narrativa.

O assombro constante pode causar um sentimento de medo generalizado, elevando a ansiedade até que as pessoas, em pânico, fiquem paralisadas. Pior. Matando qualquer forma de esperança, destruindo a motivação inicial, aquela que a utopia busca construir, a banalização da distopia e o sentimento que ela supostamente causa na sociedade podem acabar com a fé no futuro.

Essa visão é tão trágica que pode até ser utilizada como premissa para uma ficção distópica, você não acha?

Distopia e ficção científica

A distopia está associada à ficção científica e muitas obras de FC são distópicas. Porém, isso não indica que uma está, necessariamente, atrelada à outra. Podemos compreender assim: nem toda distopia é FC, assim como nem toda FC é distópica. Existem, sim, muitas obras que combinam essas duas vertentes, produzindo obras que marcaram a literatura mundial.

Bem, se você quer saber mais sobre distopia, confira algumas outras referências interessantes:

Talvez, depois deste texto, você tenha percebido que, a distopia é, na verdade, a irmã cri-cri. Aquela que sempre tem alguma coisa pra criticar. Há os que se incomodam com ela e a vejam como uma pessoa pessimista. Mas também tem muita gente que gosta de seus conselhos. E você, o que acha?

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