Simbolismo: sua complexidade e a contracultura

    As escolas literárias possuem uma problemática pelo modo em que é acessada. Eu preciso saber o contexto histórico, principais autores, características, data de início etc. No entanto, passou da hora das escolas literárias serem vistas de outra forma, porque elas existente para nos mostrar apenas uma coerência da época; apenas um ponto de similaridades em um determinado período e divergências a partir das comparações.

    Pensando, nisso, nada melhor do que o Simbolismo e toda a sua complexidade, que veio como um movimento de contracultura, sem desprezar o que há de bom quanto as questões estéticas e a beleza do mundo abstrato, metafórico, irracional etc.

    Como tudo começou?

    Baudelaire e sua cara de poucos amigos.

    Quem iniciou essa revolta quanto ao modos de se fazer arte, foi o controverso Charles Baudelaire, em um soneto publicado em 1987 chamado “Correspondências“:

    A natureza é um templo onde vivos pilares
    Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas
    Fazem o homem passar através de florestas
    De símbolos que o veem com olhos familiares.

    Como os ecos do além confundem os rumores
    Na mais profunda e tenebrosa unidade,
    Tão vasta como a noite e como a claridade
    Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.

    Há perfumes frescos como carnes de criança
    Doces como oboés, ou verdes como as campinas.
    E outros, corrompidos, mas ricos e triunfantes

    Que possuem a efusão das coisas infinitas
    Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso,
    Que cantam o êxtase, do espírito e dos sentidos.

    No poema de Baudelaire, é possível observar o que chamamos de sinestesia, ou seja, o sentido de coisas opostas, com diferentes sensações e que se encaixam, como mágica. E, por esse aspecto, o Simbolismo chegou para nos dizer que nada é tão simples assim, que a vida se mistura o tempo todo entre algo concreto e algo subjetivo. Ou seja, nem tanto realista, nem tanto parnasiano.

    O Simbolismo no Brasil: como não amar?

    No Brasil, os poetas estavam apegados ao Parnasianismo e, dessa forma, o Simbolismo não alcançou tanto público. Porém, o que foi publicado merece ser lido e, de um ponto de vista mais geral, o conteúdo pode gerar uma proximidade maior com a vida contemporânea.

    Medeiros de Albuquerque publicou um livro em 1889 chamado “Canções da Decadência“, um excelente título, porém, para a turma parnasiana, o título era ruim, pois não enaltecia a beleza das coisas. Desse modo, o que viria logo depois a se fortalecer como a cena simbolista do Brasil, ficou conhecida como decadentismo, antirracional, anti-intelectual. (Como não gostar do Simbolismo?)

    Abaixo um pequeno trecho do poema “Proclamação decadente“, de Medeiros e Albuquerque, que sintetiza os ideais Simbolistas:

    Que importa a Ideia, contanto
    que vibre a Forma sonora,
    se da Harmonia do canto
    vaga alusão se evapora?

    Cruz e Sousa e o início “oficial” do Simbolismo

    Os livros literários, destacam o início oficial do Simbolismo o ano de 1893 com a publicação de 2 livros de Cruz e Sousa: Broquéis e Missal. Ele, um escritor negro, trouxe correspondências a partir de vários elementos da vida. Fez uso da sinestesia, principalmente por trazer a representação das cores, os sentidos humanos e a sonoridade.

    Na edição da L&PM Pockets, há uma sinopse muito interessante sobre Cruz e Sousa:

    “Cruz e Sousa foi o verdadeiro poeta canibal, antecipando e muito Oswald de Andrade, os manifestos modernistas e as inquietações e estranhamentos da poesia do século XX. Leu, converteu, transformou diferenças e variedades, abrasileirou franceses, influenciou latino-americanos e continua até hoje a nos surpreender. Assimilou o que quis dos poetas que leu, deglutiu-os e vomitou-os em poemas fantásticos revirginados de seus precursores, reencontrando toda uma família de espíritos, uma verdadeira confraria, a dos criadores de fantasia! Foi um verdadeiro poeta moderno com todas as conotações da palavra em cada época. Como Baudelaire, na França, Cruz e Sousa, no Brasil, foi o introdutor da modernidade.”

    Então, já ficou claro: quando falamos de Simbolismo, falamos de Crus e Souza. Fique com um poema dele chamado “Cristais”:

    Mais claro e fino do que as finas pratas
    O som da tua voz deliciava…
    Na dolência velada das sonatas
    Como um perfume a tudo perfumava.

    Era um som feito luz, eram volatas
    Em lânguida espiral que iluminava,
    Brancas sonoridades de cascatas…
    Tanta harmonia melancolizava.

    Filtros sutis de melodias, de ondas
    De cantos volutuosos como rondas
    De silfos leves, sensuais, lascivos…

    Como que anseios invisíveis, mudos,
    Da brancura das sedas e veludos,
    Das virgindades, dos pudores vivos.

    Outros poetas simbolistas brasileiros: Alberto Guerra Vidal, Castro Menezes, Gustavo Teixeira, Rodrigues de Abreu, Batista Cepelos, Augusto dos Anjos, Alphonsus de Guimaraens, Eduardo Guimarães e Hermes Fontes. (só homens porque nesta época o machismo não permitia que as mulheres saíssem de suas casas…)

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