Uma das minhas primeiras memórias de infância remonta a um eclipse solar que eu tentei ver através de uma chapa de raio-x. Outra lembrança me leva ao livro de Ciências usado no Ensino Fundamental: recordo-me de sentar diante da máquina de escrever (sim, computador era raridade) e copiar os trechos relacionados à Astronomia. O plano era criar meu próprio livro sobre o assunto, cheio de figurinhas e desenhos de estrelas, rs.

    Já no primeiro ano do Ensino Médio, lancei-me ao desafio de participar da Olimpíada Brasileira de Astronomia. O desempenho não foi bom, acabei desistindo da ideia de me formar na área, mas a paixão pelo assunto continuou. E um cientista foi fundamental para nutrir esse interesse em mim: Carl Sagan!

    “Eu sou um conjunto de moléculas orgânicas chamado Carl Sagan”

    Carl Sagan

    Sagan é um dos mais famosos nomes da Ciência do século XX. Nascido em 9 de novembro de 1934, em New York, EUA, foi um cientista, físico, biólogo, astrônomo, astrofísico, cosmólogo, escritor, divulgador científico e ativista. Escreveu mais de 600 publicações científicas e mais de vinte livros de ciência e ficção científica. A série “Cosmos”, que foi complementada por sua obra homônima, chegou à TV em 1980, sendo um sucesso de público e crítica. Além disso, foi consultor e conselheiro da NASA desde os anos 50, trabalhou com os astronautas do Projeto Apollo antes de suas idas à Lua, e ainda participou dos projetos da Mariner, Viking, Voyager, e das missões da sonda Galileo.

    “Que coisa espantosa é um livro. É um objeto achatado feito a partir de uma árvore, com partes flexíveis em que são impressos montes de rabiscos escuros engraçados. Mas basta um olhar para ele e você está dentro da mente de outra pessoa, talvez alguém morto há milhares de anos. Através dos milênios, um autor está falando claramente e em silêncio dentro de sua cabeça, diretamente para você. A escrita é talvez a maior das invenções humanas, unindo pessoas que nunca se conheceram, cidadãos de épocas distantes. Livros rompem as amarras do tempo. Um livro é a prova de que os seres humanos são capazes de fazer magia.”

    Carl Sagan, no episódio ”A Persistência da Memória”, décimo primeiro da série Cosmos: A Personal Voyage em 1980.

    Carl Sagan morreu no dia 20 de dezembro de 1996, aos 62 anos, no Centro de Pesquisas do Câncer Fred Hutchinson, em Seattle, Estados Unidos, em decorrência de complicações de uma pneumonia, depois de uma batalha que durou dois anos contra uma grave doença na medula óssea. 

    Para marcar minha admiração pelo grande astrônomo, fiz essa lista de livros escritos por Sagan e que foram publicados no Brasil (alguns títulos, infelizmente, estão esgotados, mas podem ser encontrados em sebos online). E que suas ideias sobre o valor da ciência e da vida continuem se propagando por esse vasto, vasto Universo.

    A Civilização Cósmica: uma perspectiva extraterrestre (1973)

    Carl Sagan

    Coescrito por Jerome Agel, esse livro discute a possibilidade da existência de civilizações extraterrestres. Expressando-se numa linguagem não técnica para os cidadãos do planeta Terra, Carl Sagan e Jerome Agel descrevem a pesquisa de vida no espaço, estabelecendo uma relação entre as novas descobertas astronômicas e os problemas humanos mais complexos. É possível achar exemplares da edição brasileira na Estante Virtual e a versão em inglês na Amazon.

    Os Dragões do Éden: especulações sobre a evolução da inteligência humana (1977)

    Carl Sagan

    Nessa obra são combinados os campos da antropologia, biologia evolucionária, psicologia e ciência da computação para dar uma perspectiva balanceada de como a inteligência humana evoluiu. Carl Sagan procura mostrar que a razão da massa cerebral sobre a massa corpórea é um indicador extremamente bom, com os humanos tendo a maior, seguidos pelos golfinhos. O livro foi o vencedor do prêmio Pulitzer de 1977. Há exemplares na Amazon.

    Murmúrios da Terra: o disco interestelar da Voyager (1978)

    Essa obra abrange a fascinante história do registro interestelar contendo fotos, cumprimentos em diferentes idiomas e uma seleção de sons da Terra que foram colocados na sonda Voyager e lançados em setembro de 1977. Alguns exemplares estão disponíveis na Estante Virtual.

    O Romance da Ciência (1982)

    A ciência, explica Carl Sagan, não é uma massa de conhecimentos, mas uma maneira de encarar o mundo – um questionamento criativo, que sonda e testa tudo. Sempre que mergulhamos abaixo da superfície, unindo fatos ou recusando-nos a aceitar cegamente as informações, estamos praticando a ciência. A edição brasileira, de 1982, pode ser adquirida na Estante Virtual.

    Cosmos (1980)

    Esse é um dos livros de Ciências mais vendidos da História e que elevou Carl Sagan à fama mundial! Cosmos retraça 14 bilhões de anos de evolução cósmica, explorando tópicos como a origem da vida, o cérebro humano, hieróglifos egípcios, missões espaciais, a morte do sol, a evolução das galáxias e as forças e indivíduos que ajudaram a moldar a ciência moderna. Numa prosa transparente, Carl Sagan revela os segredos do planeta azul habitado por uma forma de vida que apenas começa a descobrir sua própria identidade e a se aventurar no vasto oceano do espaço sideral. Aqui, o tratamento dos temas científicos está sempre imbricado com outros campos de estudo tradicionais, como história, antropologia, arte e filosofia. Publicado pela primeira vez em 1980, Cosmos reúne alguns dos conhecimentos mais avançados da época sobre a natureza, a vida e o Universo ― e se mantém até hoje como uma das mais importantes obras de divulgação científica da história. Embora diversas descobertas fascinantes tenham ocorrido nos últimos quarenta anos, o tema central deste livro nunca estará desatualizado: nosso fascínio pelo conhecimento e a prática da ciência como atividade cultural. Você pode adquirir o seu exemplar na Amazon.

    “O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá. Nossa contemplação do Cosmos nos comove – provoca calafrios, nos deixa sem voz, causa uma sensação de vertigem, como uma memória remota de estarmos caindo de uma grande altura. Sabemos que estamos nos aproximando do maior de todos os mistérios.”

    Carl Sagan, no episódio “As Margens do Oceano Cósmico”, primeiro da série Cosmos: A Personal Voyage, em 1980.

    Contato (1985)

    Contato com extraterrestres não é sinônimo de homenzinhos verdes desembarcando de um disco voador. É muito mais: sinais captados num radiotelescópio podem conter mensagens capazes de nos fazer repensar toda a nossa concepção da vida e do universo. Esse é o ponto de partida de Carl Sagan, que, aliando as tensões da melhor literatura ao conhecimento científico mais avançado, compõe um romance que pode provocar em nós todas as reações – menos a indiferença. Em Contato, o que está em jogo é o mundo tal como o conhecemos. Como quem faz uma aposta, Sagan nos convida a uma viagem assustadoramente fascinante pelo buraco negro que é a inteligência humana. O livro serviu de base para um filme homônimo de 1997 e pode ser adquirido na Amazon.

    Pálido Ponto Azul: uma visão do futuro da humanidade no espaço (1994)

    Nessa obra, considerada a continuação de Cosmos, Sagan coloca em questão a necessidade de nós, humanos, entendermos a raridade de recursos propícios à vida, demonstrando o quão pequeno é o nosso lar em um universo infinito onde não passamos de herdeiros temporários do nosso pequeno mundo que, por acidente, adquiriram a capacidade de destruí-lo. E é impossível não falar desse livro sem citar uma de suas passagens mais famosas, proveniente de uma reflexão de Carl Sagan sobre a fotografia da Terra feita pela sonda Voyager, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância:

    Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos que já ouvimos falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. O agregado de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso num raio de sol.

    A Terra é um cenário muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em sua glória e triunfo, eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma fração desse ponto. Pense nas infindáveis crueldades infligidas pelos habitantes de um canto deste pixel aos quase indistinguíveis habitantes de algum outro canto. Quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matarem e o quão fervorosamente eles se odeiam.

    Nossas atitudes, nossa imaginária auto-importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, é desafiada por este pálido ponto de luz.

    O nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade – em toda essa vastidão -, não há nenhum indício de que a ajuda possa vir de outro lugar para nos salvar de nós mesmos.

    A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga a vida. Não há mais algum – pelo menos no futuro próximo -, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, pode. Assentar-se, ainda não. Gostando ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar. Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de humildade e construção de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o pálido ponto azul, o único lar que nós conhecemos.

    Carl Sagan, Pálido Ponto Azul. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

    O livro pode ser adquirido na Amazon.

    O mundo assombrado pelos demônios (1995)

    Assombrado com as explicações pseudocientíficas e místicas que ocupam cada vez mais os espaços dos meios de comunicação, Carl Sagan reafirma o poder positivo e benéfico da ciência e da tecnologia para iluminar os dias de hoje e recuperar os valores da racionalidade. Como todos os livros do autor, O mundo assombrado pelos demônios está cheio de informações surpreendentes, transmitidas com humor e graça. Seus ataques muitas vezes divertidos à falsa ciência, às concepções excêntricas e aos irracionalismos do momento são acompanhados por lembranças da infância, quando seus pais o colocaram em contato pela primeira vez com os dois modelos de pensamento fundamentais para o método científico: o ceticismo e a admiração. O livro está disponível na Amazon.

    Bilhões e Bilhões: reflexões sobre a vida e morte na virada do milênio (1997)

    Último livro escrito por Carl Sagan – e publicado postumamente por Ann Druyan, sua mulher e colaboradora, Bilhões e Bilhões traz dezenove artigos dedicados a temas variados. Une-os o fio da racionalidade no exame das coisas do mundo. Por exemplo: por que se deve ser a favor do direito de decisão da mulher em relação ao aborto; por que os problemas ambientais devem ser abordados a partir de uma plataforma de máxima inteligibilidade a respeito da ciência, da tecnologia e de seu papel social, e não com base em pressupostos emocionais muitas vezes resultantes da falta de informação. Sagan fala da possibilidade de haver vida em Marte, sobre o aquecimento global e sobre sua impressionante luta contra a doença que acabou por vencê-lo. O tema que une os artigos reunidos em Bilhões e Bilhões é, enfim, a vida e a morte: do planeta, do Universo, do ser humano coletivo e individual. Disponível na Amazon.

    Variedades da experiência científica: uma visão pessoal da busca por Deus (2006)

    Mais de vinte anos antes do atual movimento ateísta, o astrofísico Carl Sagan questionava a visão tradicional de Deus num tom bem-humorado, de sólidas bases científicas, nas Palestras Gifford, promovidas pela Universidade de Glasgow em 1985 para discutir a “teologia natural”. A relevância do tema na atualidade, marcada pelo extremismo religioso de todos os matizes, fez com que sua viúva e colaboradora Ann Druyan recuperasse as transcrições perdidas das conferências e as transformasse no livro Variedades da experiência científica: uma visão pessoal da busca por Deus. Nessa obra, Sagan discute a existência de Deus, expõe suas esperanças de encontrar vida inteligente em outros planetas e manifesta o desejo de que a religião seja usada para melhorar a vida do ser humano. Disponível na Amazon.

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