Acredito que entrei em um caminho sem volta. O conto “A pobre Lisa”, do escritor Nikolai Karamzin (1766 – 1826), apesar de sua temática já tão batida, o amor ingênuo e trágico, me fez pensar que, quando as pessoas falam da grandiosidade da literatura russa, elas tem toda razão.

    A personagem central da história é Lisa, uma moça muito pobre que vende flores em Moscou. Um dia, ela conhece um homem e se apaixona por ele. E nisso não mora nenhuma novidade para os leitores do século XXI. No entanto, é o narrador que torna o conto admirável.

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    Nikolai Karamzin começa sua história com um narrador muito confiante sobre o quanto conhece sobre sua própria cidade e, aos poucos, vai construindo um cenário da grande Moscou e de seus arredores rurais.

    A moça Lisa é apresentada de modo sutil. Ela, diariamente, recolhe flores para vender na grande cidade. E o pouco dinheiro que ganha é compartilhado com sua mãe, uma mulher idosa e viúva. Assim, mãe e filha nutrem a esperança de um futuro melhor.

    “No dia seguinte, Lisa colheu os melhores lírios e foi outra vez à cidade. Seus olhos buscavam algo de mansinho.”

    A pobre Lisa. Nikolai Karamzin, p. 25.
    A pobre Lisa
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    Como toda história romântica clássica, Lisa conhece Erast enquanto vende as flores. Ele, bem sucedido financeiramente, oferece muito mais dinheiro do que o valor que ela cobra por suas flores. A princípio ela nega, pois aprendeu com sua mãe não aceitar nada além do devido e também porque, de início, desconfia das intenções de Erast.

    A partir deste ponto, a história passa a ser sobre os encontros secretos de Lisa e Erast. O casal, cada vez mais apaixonado, é retrato pelo narrador de forma intensa e, sabiamente, deixa o leitor em estado de reflexão sobre as reais intenções dele e também sobre como será o desfecho dessa história.

    Nikolai Karamzin apresenta o contraste social e também os desejos tão diferentes desses jovens. Ela, vivendo o sonho da paixão, e ele preso às necessidades financeiras de sua classe.

    Por fim, a tragédia é anunciada nas entrelinhas e também mora na percepção que o leitor terá das personagens do conto. Nikolai Karamzin, apesar de não ser um dos grandes autores russos conhecidos no Brasil, em seu primeiro conto, escrito em 1792, mostra uma história universal: o amor e a ilusão.

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