No livro “Jack Kerouac e Allen Ginsberg – As Cartas”, lançado recentemente pela editora L&PM Editores, podemos ver a construção de um movimento cultural, não no sentido de projeto, mas na espontaneidade de ser o próprio movimento.

O abismo é mais real do que a carne do presente ou os delírios do futuro. O que fazer?  (Allen Ginsberg para Jack Kerouac em 1948. p. 59)

Jack Kerouac (1922-1969) e Allen Ginsberg (1926-1997) fizeram parte de um movimento cultural chamado Geração Beat, que aconteceu entre 1950 a 1960 nos EUA. O termo beat tem vários significados, mas podemos entender como batida, ritmo e contracultura. Isso porque os representantes desse movimento não se sentiam parte da vida tradicional americana, eles viviam livres, soltos, pregando uma vida de excessos, pouco conforto, mas de muita inspiração em busca de sabedoria e aventura, que para os anos 50, era sinônimo de rebeldia, loucura, anarquismo.

No livro “Jack Kerouac e Allen Ginsberg – As Cartas”, podemos ver a construção de um movimento cultural, não no sentido de projeto, mas na espontaneidade de ser o próprio movimento. De um lado a prosa representada por Jack Kerouac, de outro a poesia de Allen Ginsberg. E se pensarmos que essas cartas não tinham o objetivo de representar o que representam hoje, foi por meio de um desejo de trocar experiências e fortalecer uma amizade singular, que ganhamos esse registro maravilhosos sobre o que foi a geração beat.

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Estou pensando em pegar um trabalho de frentista, dando de ombros como sempre. Estou perdido. Se meu livro não vender, o que posso fazer? Enquanto escrevo isto estou prestes a cair da cadeira. Agora mesmo me desequilibrei. É demasiado perto da morte, a vida. Preciso aprender a aceitar a corda bamba. (Jack Kerouac para Allen Ginsberg, p. 53)

Dois grandes amigos

As cartas – de 1944 a 1963 – revelam dois amigos que se permitiram ser livres para que suas próprias contradições tornassem um degrau para um sentido profundo de melhoria: para a vida, para si mesmo, para o outro, para o mundo e, principalmente, para a literatura. Eles mesmos se reconheciam como loucos e perdidos, mas também anjos corajosos por buscar uma vida diferente, restrita, porém com a mente rica e empregada por um lirismo profundo e simples, que mostrou a clareza da literatura, da construção da literatura.

Sou e falo e leio e escrevo e o círculo do destino se fecha ao meu redor: morre, enlouquece, o que você agora acha que é louco é na verdade o amor e é são. (Allen Ginsberg para Jack Kerouac, p. 49)

Jack Kerouac já era um escritor conhecido para mim, então, não foi novidade sentir em suas cartas aquele mesmo ritmo acelerado que li em On The Road e a melancolia que encontrei em Tristessa, pois uma das marcas da escrita de Jack é justamente a naturalidade, uma confusão boa em tentar decifrar quem é o personagem, quem é ele. Allen Ginsberg eu não conhecia e fiquei encantada com os seus textos, principalmente pelo caminho de sua escrita, o trajeto sinuoso de um raciocínio livre revelado sem medo nas cartas para o amigo, que também retribuía da mesma forma, que fez a mágica literária acontecer: prosa em poesia, poesia em prosa, vida, arte, amizade, liberdade, loucura, desconstrução, coragem, cultura, sociedade, simplicidade, confiança, ritmo, beat.

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5 Comentários

  1. Alcina Augusta Lapa on

    Francine gosto do seu blog e espero que consigas realizar teus sonhos. Também adoro literatura e Virginia Woolf entre outros autores.

  2. Bianca Gomes on

    Adorei o texto como descreveu essa ligação dos dois, eu já conhecia o trabalho deles ( adoro na vdd), mas era mais fã do Allen e foi muito legal ver que vc conhece mais o Jack ^ ^ sentir a essencia e escrita de cada um é muito tri ^ ^

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