O texto abaixo faz parte de minha Monografia apresentada no final de 2012 no curso de Letras da Universidade de Sorocaba.O texto abaixo faz parte de minha Monografia apresentada no final de 2012 no curso de Letras da Universidade de Sorocaba. O título da pesquisa é: “A crítica literária em blogs: leitores comentam a literatura”. Publico-a aqui no blog, pois acredito que o assunto pode contribuir para quem faz da internet um espaço para trocar informações sobre literatura.

    “Gêneros textuais” é um termo antigo, pois Aristóteles (V e IV A.C.), através de estudos sobre oratória, utilizava-o para definir “o que se considera a primeira teoria sistemática sobre os gêneros e sobre a natureza do discurso” (Angeli apud Marcuschi, 2008, p. 147). Hoje em dia, “para a grande maioria dos estudiosos, os gêneros textuais são considerados como fenômenos históricos, relacionados à vida cultural e social de um povo.” ( Dell’isola, 2009, p. 20 ).

    Defende Nóbrega (2009, p.4) os mesmos conceitos utilizados por Douglas Biber (1988), John Swales (1990.), Jean-Michel Adam (1990), JeanPaul Bronckart (1999):

    Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
    Basicamente, os gêneros textuais são todos os “tipos” de textos que podem ser produzidos, como uma carta, um bilhete, uma redação, uma resenha. Esses textos, através da internet, podem ser divulgados em chats, e-mail, vídeo-conferência, lista de discussão, blogs, entre outros (Marcuschi. 2008, p. 31).

    Também Marcuschi (2008, p. 18) afirma que “a internet transmuta de maneira bastante complexa gêneros existentes, desenvolve alguns realmente novos e mescla vários outros.” A partir desse ponto, e conforme o objetivo da pesquisa, é necessário adentrar nos gêneros textuais divulgados na internet para, ao final, encontrar similaridades ou não nos textos digitais que divulgam literatura, que também são chamados, pelos próprios blogueiros, de resenhas.

    Resenhas, como gênero textual, “refere-se a textos materializados, orais ou escritos, utilizados no dia a dia e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por sua função, conteúdo temático e finalidade” (Angeli apud MARCUSCHI, 2008, p. 155).

    A seguinte tabela, elaborada a partir do quadro mostrado por Angeli apud Ibarro (2011) “com base em vários autores que apresenta uma proposta bastante abrangente de classificação dos gêneros quanto à situação discursiva e à capacidade de linguagem”, define as resenhas:

    resenha-dominio-discursivo

    O que temos é a seguinte mesclagem: a resenha, como um gênero textual tradicional, inserido numa forma de veiculação digital (blog), “que permite a produção fácil e simplificada de conteúdo livre em hipermídia. (Vidal, 2008, p.2)”. Em outras palavras, o indivíduo usa o blog para expor sua opinião sobre uma obra literária, através do gênero textual chamado de resenha.

    Resenhar, segundo Fiorini (2007, p. 426), “significa fazer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem”. E ainda, seguindo a sua definição, temos:

    A resenha, como qualquer modalidade de discurso descritivo, nunca pode ser completa e exaustiva, já que são infinitas as propriedades e circunstâncias que envolvem o objeto descrito. O resenhador deve proceder seletivamente, filtrando apenas os aspectos pertinentes do objeto, isto é, apenas aquilo que é funcional em vista de uma intenção previamente definida.

    Ou seja, o blogueiro, para divulgar a literatura em seu espaço virtual (blog) deve estar atento aos moldes de uma resenha: argumentar, expor ou descrever os aspectos relevantes de uma obra. E, conforme sua preferência, a resenha pode ser 1.) descritiva (resenha-resumo) que se limita a resumir o conteúdo de um livro, sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-se de um texto informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor; 2.) ou crítica que, além de resumir o objeto, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica, apontando os aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião, também denominado de recensão crítica, conforme define Scarton (2002).

    Conheça também: As funções da literatura

    Referências

    ANGELI, Grasielly Hanke. BLOG: Um estudo sob a luz do conceito de gêneros textuais. Monografia.  Porto Alegre, 2011. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/article/view/11421

    ALONGE, Wagner. Ágoras digitais: a emergência dos blogs no ciberespaço e suas implicações na sociabilidade e cultura midiática. Trabalho apresentado no 1º Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação e Cultura, Salvador, 2006.

    CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro. 2006.

    CASTELLS, Manuel. Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

    CONTI, Fátima. O que é um link. 2012. Disponível em: http://www.ufpa.br/dicas/htm/htm-link.htm

    DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret, coord. Nos domínios dos gêneros textuais, Belo horizonte, 2009. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/vivavoz/data1/arquivos/nosdominiosdosgeneros-v1.pdf

    FIORINI, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto, leitura e redação. São Paulo, 2007.

    LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo. Ed. 34, 1999.

    MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. Em: MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A. C. (Orgs.) Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2004. Disponível em: http://www.sergiofreire.com.br/com/MARCUSCHI-GenerosEmergentes1.pdf

    MOISÉS, Massaud. Guia Prático de Análise Literária. São Paulo, Cultrix. 1988.

    NICOLACI-DA-COSTA, A. M. ; LUCCIO, Flavia Di . Escritores de blogs: interagindo com os leitores ou apenas ouvindo ecos?. Psicologia Ciência e Profissão, v. 27, p. 664-679, 2007.

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    SCARTON, Gilberto. Guia de produção textual: assim é que se escreve… Porto Alegre: PUCRS, FALE/GWEB/PROGRAD Disponível em: http://www.pucrs.br/gpt/

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    OLIVEIRA,F.C.C.; FADEL,R.K.L.. Os Meios de Comunicação de Massa e sua evolução para os blogs. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 27., 2004. Porto Alegre. Anais… São Paulo: Intercom, 2004. CD-ROM.

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    State of the Blogosphere 2011. Disponível em: http://technorati.com/social-media/article/state-of-the-blogosphere-2011-part1/ Data de acesso: 26/06/2012.

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