Eu li Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas, um livro lindo relançado pela editora Rocco e que foi escrito por Clarice Lispector. E além da beleza das ilustrações feitas por Suryara, cada lenda recontada por Clarice faz reacender uma luz, como uma estrela, mas na nossa alma, tocada suavemente pelas histórias que ouvíamos quando criança.
O livro começa com uma linda ilustração acompanhando o texto “A força do sonho”, escrito em 1977, em que Clarice explica sobre o seu desejo de recontar doze lendas brasileiras, uma representando cada mês:
“A começar por nós mesmos que todas as noites no travesseiro vivemos de uma realidade quase intraduzível por palavras, mas que ninguém pode negar, realidade livre, sem freios e que nos pertence quase mais do que o dia a dia que vivemos. O dia a dia que se torna às vezes mais pobres que o sonho”.
(Como nasceram as estrelas, p. 5)
Virginia Woolf, no romance Orlando, também registrou sobre a importância do sonho para que a vida seja possível: “A vida é um sonho, é o despertar que nos mata. Quem nos rouba o sonho, nos rouba a vida”.
Relembrar a frase de Virginia ao ler Clarice realmente foi uma surpresa deliciosa, que me deu mais vontade de ler as lendas de Clarice Lispector. É claro que eu leria tudo, mesmo sem essa conexão, mas quando penso que grandes escritores conseguem apresentar uma ideia em comum de forma brilhante, mais uma luz se acende em minha alma, que me diz que a literatura é, sim, tão importante quanto o meu exagero apaixonado aclama.
Além do impossível, grandes personagens aparecem no livro, como o Saci-Pererê, Yara, Curupira, Negrinho do Pastoreio, diversos animais falantes e crianças, representadas pelos curumins, que explicam o subtítulo do livro. Cada página é um despertar feliz sobre o quanto é bom ser criança.