Da página 147 à 247 não aconteceram situações muito intensas como no começo do livro, talvez porque eu já esteja acostumada com a enxurrada de informações, cenários, personagens e bizarrices (tem um momento, no começo do livro, que acontece um ataque de ratos, mas as pessoas já estão sabendo lidar com eles e nada muito ruim acontece. Mas imaginar milhões de ratos correndo em minha direção foi no mínimo angustiante).

    “É uma manada de hamsters selvagens, das grandes, rimbombando pelas planícies amarelas dos limites meridionais do Grande Recôncavo no que era Vermont, erguendo poeira que cria uma nuvem de tom urêmico com formatos somáticos interpretáveis até de Boston e Montreal.
    (…) O barulho da manda é tornádico, locomotival (…). Hamsters selvagens não são bichinhos de estimação. Eles são coisa séria. Recomenda-se manter grande distância” (p. 98)

    Da página 162 a 175 há um relato gigante – e muito bonito – do pai do Dr. James Incandenza sobre a infância e juventude de seu filho com o esporte e também a própria ausência dele devido ao alcoolismo. Em alguns momentos os grandes parágrafos me lembraram José Saramago.

    Alô, alô!

    Voltando um pouquinho, lá pela página 151, David Foster Wallace explica o uso de telefone, o clássico, como ainda usamos nos dias de hoje, no lugar da moderna videotelefonia que existe no mundo de Graça Infinita. Quero dizer, existia, porque o sistema fracassou, pois as pessoas entraram numa noia absurda sobre a aparência delas nessas “videoconferências”. Cada uma queria inventar a si mesmo – outra cara, outro tudo, um avatar totalmente diferente – para aparecer na tela. Mas a situação se tornou tão bizarra que as pessoas entraram num colapso e decidiram voltar ao esquema tradicional do telefone. E Wallace faz uma ode à deliciosa tarefa de rabiscar coisas em um bloquinho enquanto se fala ao telefone, sem prestar muita atenção ao que está sendo falado do outro lado da linha.

    A capa. Edição da Companhia das Letras. COMPRE NA AMAZON

    Os destaques

    A personagem que mais está me intrigando no momento é Hellen Steeply, pois estou curiosa para saber se ela é parente direto do Steeply, a mulher dele talvez, que apareceu um pouco antes, naquela cena do deserto que comentei no diário anterior.

    Outra personagem interessante que apareceu é a Joelle Van Dyle, atriz que participou ativamente dos filmes do Dr. James Incandenza e que agora está praticamente na sarjeta.

    Um destaque foi dado também à Casa Ennet de Recuperação de Drogas e Álcool. Há muitos personagens interessantes internado no local e a impressão que tenho é que de alguma forma todo mundo da história vai passar por lá. Pois o lance de usar drogas é muito constante no livro. A quantidade de nomes para comprimidos para depressão, stress, etc é absurda e isso me incomoda um pouco.

    Sobre os diversos “narradores”

    O livro, em sua totalidade, é narrado em 3ª pessoa. Temos um narrador que sabe tudo, está presente em todos os lugares e também compreende o que se passa na cabeça dos personagens. Mas acontece de outros “narradores” roubarem a cena. São os próprios personagens que aparecem narrando a própria história, seja por meio de artigos publicados; e-mails trocados; e pensamentos, o fluxo de consciência que deixa o leitor dentro da mente do personagem.

    Que isto e que aquilo

    É na página 209 que o narrador faz uma deliciosa lista das coisas que a gente aprende na vida, no contexto do livro, na Casa Ennet, mesmo soando um pouco clichê, entre as tantas partes gigantes e aceleradas da história, foi esta a parte que mais curti até o momento.

    “Que dormir pode ser uma forma de fuga emocional e pode com o devido esforço ser um vício. (….) Que se privar do sono de propósito também pode ser uma fuga viciante. Que jogar pode ser uma fuga viciante também, e trabalho, compras, roubar lojas, sexo, exercício, meditação/oração (…). Que solidão não é uma função de estar só. (…) Que as pessoas más nunca acreditam que são más, e sim que todo os outros é que são maus. Que é possível aprender coisas maravilhosas com um imbecil.” (p. 209)

    O vídeo:

    247 páginas concluídas de 1141 páginas existentes.

    Graça Infinita (David Foster Wallace)
    Companhia das Letras, tradução de Caetano W. Galindo
    Literatura Americana, 1141 páginas, 2014.
    Título original: Infinite Jest

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