Virginia Woolf viveu por 59 anos. Afogou-se no Rio Ouse, próximo à sua casa em Monk’s House. O seu corpo foi encontrado às margens do rio, 3 semanas após o seu suicídio. O dia da sua morte, então, é: 28 de março, de 1941, há exatos 75 anos.

    Além de uma intensa produção literária, Virginia Woolf escreveu diários durante quase toda a sua vida. Em alguns anos mais, outros menos, porém, são nesses livros que podemos encontrar não apenas a escritora Virginia Woolf, mas também a mulher, uma pessoa que possuía uma mente tão genial quanto perturbardora, no sentindo de levar o pensamento a um caminho tão claro e sereno, ao mesmo tempo que tentativas de suicídios e uma depressão profunda atingiam a sua própria vida.

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    Comentar sobre suicídio é sempre algo delicado e também profundo. Nunca saberemos qual é o último pensamento de uma pessoa que tira a própria vida. Se há algo de alívio e esperança, ou medo e desespero. Ou tudo isso junto e mais tantas coisas que é difícil resumir, impossível conhecer.

    Então, 75 anos atrás, Virginia Woolf fez  último registro em seu diário. Era o dia 24 de março de 1941, quatro dias antes dela escrever uma carta ao marido e outra para a irmã, sobre o encerramento de sua própria vida.

    O que há neste último registro: informações cotidianas, impressões sobre pessoas e lugares, [sempre] e comentários sobre Vanessa e Leonard:

    Segunda, 24 de março

    Tinha um nariz como o do duque de Wellington, e grandes dentes de cavalo, e olhos frios e proeminentes. Quando entramos ela estava sentada, empoleirada numa cadeira triangular com o tricô na mãos. Uma seta prendia-lhe o colar. E não haviam passado cinco minutos já ela nos contava que dois dos seus filhos tinham morrido na guerra. Fazendo-nos sentir que fora uma honra par ela. Ensinava costura. Tudo naquela casa era de um castanho avermelhado e lustroso. Sentada ali tentei forjar alguns elogios. Mas estes morreram no mar de gelo que nos separava. E depois não havia mais nada.
    Anda no ar uma curiosa sensação de praia, hoje. Lembra-me os quartos numa avenida à beira-amar na Páscoa. Toda a gente se inclinando contra o vento, enregelados e silenciosos. Sem qualquer polpa.
    Esta esquina ventosa. E a Nessa está em Bringhton, e eu estou a imaginar como seria se pudéssemos transfundir as almas.
    A história da Octavia. Poderei englobá-la? A juventude inglesa em 1900.
    Duas longas cartas da Shena (Simon) e da O. Não consigo pegar nelas agora, mas gostei de receber.
    O L. está a tratar dos rododendros…

    Anterior a este último registro, há algumas pequenas evidências sobre o estado depressivo que se encontrava Virginia Woolf.

    “Domingo, 26 de Janeiro
    As águas do desespero não irão tragar-me, juro. A solidão é grande. A vida em Rodmell é tão choca. Húmida a casa. Em desordem. Mas não há outra alternativa. E os dias vão crescer. O que me falta é a energia de outrora. (…)” (p. 518)

    Leonard, marido da escritora, estava realmente preocupado com o estado dela, já havia providenciado visitas médicas e, como sempre, fazendo de tudo para que Virginia Woolf não sucumbisse. Porém, já sabemos o que aconteceu.

    E agora, 75 anos depois do suicídio da escritora, o que está em sua obra é o sentido da vida, dos motivos de viver, de fazer uma profunda busca por um trabalho que enobreça a própria condição de estar viva. É contraditório, mas enquanto temos um Septimus [um dos personagens da autora que suicida-se], temos Mrs. Dalloway, Sra. Ramsay, Lily Briscoe, Rachel Vinrace, Katherine Hilbery, Orlando e tantas outras personagens complexas e incríveis que provam que a escolha é sempre pela vida, que viver é a escolha.

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