Escrevo no escuro com a sombra das minhas mãos marcando o papel. Próximo a esse caderno tem uma vela com o delicado fogo azul e amarelo tentando suavemente me iluminar.

    Olho para a vela e penso “escrever o que nessa segunda-feira escura?”. Escura só da falta de luz artificial porque lá fora há uma linda lua cheia, os carros com seus faróis ofuscantes e um pouco de paz vinda de alguém que agora atravessa a rua e pensa no quanto a vida é bonita.

    Não pensarei com raiva nos treze lances de escada que subi para estar aqui, não pensarei na pequena dor em minhas pernas por tal feito, verdadeiramente grande vindo de mim, tão sedentária.

    A folha do caderno está quase no fim e minha letra cada vez mais derramada, como se cada pensamento, transformado em palavra, fosse uma onda chegando escorregadia aos pés de alguém que contempla o mar.

    O que posso esperar agora? Que a luz volte ou que eu tenha alguma idéia original? Vários livros estão a minha volta, diversos autores morando num amontoado de papel. Está bonito.

    Um dos livros explica a diferença entre mostrar a história e contar a história. Não há o certo e errado, apenas o estilo, o jeito daqueles que gostam de derramar palavras.

    E eu fico pensando no meu jeito, se é que tenho um. Na vida, aquela real que vivemos dias após dias e muitas vezes sem saber para onde vamos, eu percebo que sou mais de mostrar minha história, e não como se ela fosse um objeto no qual eu posso dizer “veja, esta sou eu, esta é a minha história”. Mas eu mostro de um jeito que ao final seja possível dizer “é mais ou menos assim, tire suas conclusões”.

    [texto escrito em 2010, num pedaço de papel – Salvador-BA]

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