Posso ser feita de imagens. Aquelas que quero passar e também aquelas que eu vejo. Quando me exponho, dentro de mim construo a identidade que quero transmitir, mesmo que inconscientemente. Mas será que quem me vê percebe tudo o que quero expor? E será também que o jeito que eu vejo as pessoas pode ser uma maneira de me mostrar? Há aquele famoso ditado sobre quando o José fala mal da Maria, eu sei mais sobre o José do que sobre a Maria… É isso: a vida e seus ciclos disformes, mas infinitos, que nos levam e nos trazem como ondas em uma praia. Sem começo, nem fim, mas tudo em um contínuo processo de transformação.

    No conto “A dama no espelho: reflexo e reflexão“, Virginia Woolf apresenta uma mulher que, conforme suas ações são vistas de longe, parece feliz: um lindo jardim em sua bela casa e pensamentos felizes transbordam daquela mulher que está inserida nos padrões escolhidos pela sociedade de sua época. Porém, com um olhar mais próximo, essa mulher descobre um espelho e ao fitá-lo vê a si mesma e não se reconhece. Tudo que era bom, como a felicidade, se torna infelicidade – apenas por ela encarar o seu próprio olhar. É assim com todos nós. Muitas vezes, ficamos preocupados em exercer uma função que não nos pertence ao ponto de esquecermos quem nós somos.

    E nesses nossos tempos modernos, a exposição ganha novos ingredientes diariamente. Nas redes sociais, quando a timeline mostra um assunto que a gente não entende, é ruim pois causa em nós a sensação de não pertencer ao mundo. É um jeito simplista de encarar, mas muito usado como um termômetro para a vida. Porém, podemos ir mais além. Ninguém é obrigado a opinar nas redes sociais, ninguém é obrigado a exercer o tempo todo a construção de sua imagem – positiva ou negativa.

    Mas nada na vida é simples. E como ainda temos o direito da fala, que muitos confundem com liberdade de ofender o outro, como deve ser nossa imagem quando alguém expõe a violência contra algo que amamos? Ou contra nós mesmos? Independente se dentro ou fora da internet, a vida está justamente no fato das pessoas conviverem umas com as outras. Querendo ou não, a humanidade é uma gigantesca comunidade tentando viver em harmonia, tentando lidar com suas imagens e espelhos.

    Em tempos de ódio na internet e também fora dela, como disse Desmond Tutu, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1984, “Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor.” Então, toda a vez que a violência for usada e a gente não se expor, não deixar o nosso espelho pronto para o que vier, estamos colaborando com o opressor, com a violência, com o ódio.

    Se podemos considerar um filtro para que nossa imagem cumpra uma função para a sociedade em que vivemos, é este: toda vez que alguém levantar a bandeira do ódio e da violência, é momento de levantar sua imagem e seus espelhos de paz e amor.

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