Por Rodrigo Casarin, Página Cinco / UOL

    “Gente negra já fez alguma coisa importante?”, pergunta o pequeno Jeremias.

    Na cerimônia de premiação do Jabuti de 2019, ao serem anunciados como vencedores da categoria Histórias em Quadrinhos, Rafael Calça e Jefferson Costa foram os nomes mais comemorados da noite. Ninguém que subiu ao palco ganhou tantos aplausos e vivas (além de arrancar algumas lágrimas) de quem estava na plateia. A cena se aproximou de um gol num estádio cheio. E com justiça.

    A troféu para a dupla coroava o trabalho feito em “Jeremias: Pele”, tocante narrativa sobre o racismo na infância. O volume faz parte da coleção Graphic MSP, na qual personagens icônicos de Mauricio de Sousa ganham histórias e traços feitos por quadrinistas e roteiristas promissores ou que já se destacam em nossas HQs.

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    Não é fácil dar uma sequência a um álbum elogiado e festejado como “Jeremias: Pele”. Calça e Costa, no entanto, toparam o desafio e se saíram muito bem. “Jeremias: Alma” acaba de chegar às livrarias pela Mauricio de Sousa Editora em parceria com a Panini Comics e, mais uma vez, emociona o leitor com uma história muito potente sobre racismo.

    Uma conversa com o amigo Franjinha que serve de gatilho. Entre uma brincadeira e outra, o camarada diz que irá para a terra natal de seu avô, onde tentará arrumar a cidadania italiana. Também desembesta a falar sobre o legado de antepassados e da grandeza de ícones como Leonardo Da Vinci. É o que leva Jeremias a refletir sobre suas raízes, a grande história que antecede a própria história.

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    Os momentos ao lado da avó que marcam essa difícil busca pela ancestralidade. Os elos perdidos por conta das barbaridades cometidas contra povos africanos ao longo da história, o racismo que se arrasta desde os navios negreiros até os nossos dias (como gostaria de virar um personagem para socar o “alma sebosa”!) e a possibilidade ou necessidade de recriar a própria história são elementos centrais na narrativa.

    Ceticismo sobre o merecimento das próprias conquistas e o diálogo com a cultura de outros povos massacrados em território brasileiro também merecem a atenção do leitor. Bem como dois momentos especialmente impactantes no encadear dos quadros: quando Jeremias entra numa livraria para a noite de griô e quando os pais do garoto vão ver como ficou a área de empregados da casa que estão reformando.

    Retomo a pergunta de Jeremias: “Gente negra já fez alguma coisa importante?” “Muita coisa. Seu pai e eu somos arquitetos. E sabia que a arquitetura e a engenharia surgiram na África, milênios atrás, filho? Construções muito complexas, palácios e até universidades”, responde a mãe do garoto. “Isso porque a matemática também foi criada lá. Mais de cinco mil anos atrás, nossos ancestrais já tinham livros que ensinavam multiplicação, divisão e até geometria”, prossegue o pai. “E a linguagem! Não haveria histórias se não inventassem uma forma de as pessoas se comunicarem. As primeiras palavras, Jerê, foram ditas por africanos”, completa a mulher.

    “Jeremias: Alma” é outra HQ pronta para emocionar leitores.

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