Helena Kolody foi uma poeta brasileira de Curitiba. Nasceu em 1912 e faleceu em 2004. A poeta escreveu vários tipos de poesias, como o haicai. Em sua obra, observa-se a busca por um sentido da vida a partir do cotidiano. Conheça abaixo uma seleção com as 7 melhores poesias de Helena Kolody.

    1.Antes

    Antes que desça a noite,
    imprimir na retina
    os rostos amados,
    o sol
    as cores,
    o céu de outono
    e os jardins da primavera.

    Inundar de sons
    de vozes
    e de música eterna
    os ouvidos
    antes que os atinja
    a maré do silêncio.

    Conquistar
    os pontos culminantes
    da vida,
    antes que se esgote
    o prazo de permanência
    em seu território sagrado.

    2. Pânico

    Não há mais lugar no mundo.
    Não há mais lugar.

    Aranhas do medo
    fiam ciladas no escuro

    Nos longes, pesam tormentas.
    Rolam soturnos ribombos.

    Súbito,
    precipita-se nos desfiladeiros
    a vida em pânico.

    Helena Kolody
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    3. Sonhar

    Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
    Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
    É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
    Num vôo poderoso e audaz da fantasia.

    Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
    Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
    Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
    De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.

    É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
    Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
    É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.

    Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
    Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
    Tão puro que não vive em plagas deste mundo.

    4. Abismal

    Meus olhos estão olhando
    De muito longe, de muito longe,
    Das infinitas distâncias
    Dos abismos interiores.
    Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
    Para você que está diante de mim.
    Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.

    5. Maquinomem

    O homem esposou a máquina
    e gerou um híbrido estranho:
    um cronômetro no peito
    e um dínamo no crânio.
    As hemácias de seu sangue
    são redondos algarismos.

    Crescem cactos estatísticos
    em seus abstratos jardins.

    Exato planejamento,
    a vida do maquinomem.
    Trepidam as engrenagens
    no esforço das realizações.

    Em seu íntimo ignorado,
    há uma estranha prisioneira,
    cujos gritos estremecem
    a metálica estrutura;
    há reflexos flamejantes
    de uma luz imponderável
    que perturbam a frieza
    do blindado maquinomem.

    6. Jovem

    Suporta o peso do mundo.
    E resiste.

    Protesta na praça.
    Contesta.
    Explode em aplausos.

    Escreve recados
    nos muros do tempo.
    E assina.

    Compete
    no jogo incerto da vida.

    Existe.

    7. Voo cego

    Em voo cego,
    singro o nevoeiro.
    Onde o radar que me guie?

    Perco-me em labirintos interiores.
    Que mistérios defendem
    tantas portas seladas?

    Quem me cifrou em enigmas?

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