Vinicius de Moraes foi um dos mais aclamados poetas e compositores brasileiros do século XX. Nascido no Rio de Janeiro em 1913, Vinícius, deixou um legado inestimável na literatura e na música popular brasileira. Sua poesia era marcada por uma sensibilidade ímpar e uma capacidade de expressar os mais profundos sentimentos de forma poética e cativante.

    As poesias de Vinicius de Moraes são verdadeiras obras de arte, repletas de beleza e emoção. Ele tinha o dom de combinar palavras de forma harmoniosa, criando versos que tocavam diretamente o coração do leitor. Sua poesia era uma celebração da vida, do amor, da amizade e de todas as nuances da existência humana. Através de metáforas vívidas e imagens poéticas, Vinicius transportava seus leitores para universos mágicos e sentimentos profundos, fazendo-os refletir sobre a beleza do mundo ao seu redor. Sua capacidade de expressar a complexidade das emoções humanas com simplicidade e profundidade é uma das características mais marcantes de sua obra, tornando-a atemporal e universalmente apreciada. Vinicius de Moraes foi um poeta que capturou a essência da alma brasileira e a transformou em versos que ainda ecoam na poesia contemporânea, encantando e inspirando gerações de leitores.

    Conheça abaixo 10 poemas de Vinicius de Moraes que te deixarão fascinado!

    1. Soneto de fidelidade

    De tudo, ao meu amor serei atento
    Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
    Que mesmo em face do maior encanto
    Dele se encante mais meu pensamento

    Quero vivê-lo em cada vão momento
    E em seu louvor hei de espalhar meu canto
    E rir meu riso e derramar meu pranto
    Ao seu pesar ou seu contentamento

    E assim quando mais tarde me procure
    Quem sabe a morte, angústia de quem vive
    Quem sabe a solidão, fim de quem ama

    Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
    Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure

    2. Soneto do amor total

    Amo-te tanto, meu amor… não cante
    O humano coração com mais verdade…
    Amo-te como amigo e como amante
    Numa sempre diversa realidade

    Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
    E te amo além, presente na saudade.
    Amo-te, enfim, com grande liberdade
    Dentro da eternidade e a cada instante.

    Amo-te como um bicho, simplesmente,
    De um amor sem mistério e sem virtude
    Com um desejo maciço e permanente.

    E de te amar assim muito e amiúde,
    É que um dia em ter corpo de repente
    Hei de morrer de amar mais do que pude.

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    Vinicius de Moraes

    Sinopse: “Os sonetos desse livro, publicado pela primeira vez em 1967, foram escritos ao longo de trinta anos, a partir do início da década de 30. Apesar do vasto espaço de tempo que os separa, eles guardam uma semelhança que vai muito além da submissão ao formato clássico: para Vinicius de Moraes, os sonetos eram uma via de acesso ao sublime, mesmo quando essa elevação se processava por meio da linguagem prosaica do cotidiano aparentemente banal. Este é um atributo que sempre acompanhou o poeta: o poder de vislumbrar transcendência nas pequenas coisas. Nas mãos de Vinicius, os sonetos tornam-se um instrumento exigente e delicado, manejado com firmeza para sensibilizar a crista de banalidade que envolve o mundo real.” COMPRE NA AMAZON

    3. Ternura

    Eu te peço perdão por te amar de repente
    Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
    Das horas que passei à sombra dos teus gestos
    Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
    Das noites que vivi acalentado
    Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
    Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
    E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
    Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
    Nem as misteriosas palavras dos véus da alma…
    É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
    E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
    E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

    4. Eu sei que vou te amar

    Eu sei que vou te amar
    Por toda a minha vida eu vou te amar
    Em cada despedida eu vou te amar
    Desesperadamente
    Eu sei que vou te amar

    E cada verso meu será pra te dizer
    Que eu sei que vou te amar
    Por toda a minha vida

    Eu sei que vou chorar
    A cada ausência tua eu vou chorar,
    Mas cada volta tua há de apagar
    O que essa ausência tua me causou

    Eu sei que vou sofrer
    A eterna desventura de viver a espera
    De viver ao lado teu
    Por toda a minha vida.

    Esse poema foi transformado em música por Tom Jobim:

    5. Soneto do maior amor

    Maior amor nem mais estranho existe
    Que o meu, que não sossega a coisa amada
    E quando sente alegre, fica triste
    E se a vê descontente, dá risada.

    E que só fica em paz se lhe resiste
    O amado coração, e que se agrada
    Mais da eterna aventura em que persiste
    Que de uma vida mal-aventurada.

    Louco amor meu, que quando toca, fere
    E quando fere vibra, mas prefere
    Ferir a fenecer – e vive a esmo

    Fiel à sua lei de cada instante
    Desassombrado, doido, delirante
    Numa paixão de tudo e de si mesmo.

    6. Ela entrou como um pássaro no museu de memórias

    Ela entrou como um pássaro no museu de memórias
    E no mosaico em preto e branco pôs-se a brincar de dança.
    Não soube se era um anjo, seus braços magros
    Eram muito brancos para serem asas, mas voava.
    Tinha cabelos inesquecíveis, assim como um nicho barroco
    Onde repousasse uma face de santa de talha inacabada.
    Seus olhos pesavam-lhe, mas não era modéstia
    Era medo de ser amada; vinha de preto
    A boca como uma marca do beijo na face pálida.
    Reclinado; nem tive tempo de a achar bela, já a amava.

    7. Carne

    Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas
    Que importa se existe entre nós muitas montanhas?
    O mesmo céu nos cobre
    E a mesma terra liga nossos pés.
    No céu e na terra é tua carne que palpita
    Em tudo eu sinto o teu olhar se desdobrando
    Na carícia violenta do teu beijo.
    Que importa a distância e que importa a montanha
    Se tu és a extensão da carne
    Sempre presente?

    8. Amor nos três pavimentos

    Eu não sei tocar, mas se você pedir
    Eu toco violino fagote trombone saxofone.
    Eu não sei cantar, mas se você pedir
    Dou um beijo na lua, bebo mel himeto
    Pra cantar melhor.
    Se você pedir eu mato o papa, eu tomo cicuta
    Eu faço tudo que você quiser.

    Você querendo, você me pede, um brinco, um namorado
    Que eu te arranjo logo.
    Você quer fazer verso? É tão simples!… você assina
    Ninguém vai saber.
    Se você me pedir, eu trabalho dobrado
    Só pra te agradar.

    Se você quisesse!… até na morte eu ia
    Descobrir poesia.
    Te recitava as Pombas, tirava modinhas
    Pra te adormecer.
    Até um gurizinho, se você deixar
    Eu dou pra você…

    9. Soneto de Carnaval

    Distante o meu amor, se me afigura
    O amor como um patético tormento
    Pensar nele é morrer de desventura
    Não pensar é matar meu pensamento.

    Seu mais doce desejo se amargura
    Todo o instante perdido é um sofrimento
    Cada beijo lembrado uma tortura
    Um ciúme do próprio ciumento.

    E vivemos partindo, ela de mim
    E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
    Para a grande partida que há no fim

    De toda a vida e todo o amor humanos:
    Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
    Que se um fica o outro parte a reuní-lo.

    10. Não Comerei da Alface a Verde Pétala

    Não comerei da alface a verde pétala
    Nem da cenoura as hóstias desbotadas
    Deixarei as pastagens às manadas
    E a quem maior aprouver fazer dieta.

    Cajus hei de chupar, mangas-espadas
    Talvez pouco elegantes para um poeta
    Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
    Que acredita no cromo das saladas.

    Não nasci ruminante como os bois
    Nem como os coelhos, roedor; nasci
    Omnívoro: deem-me feijão com arroz

    E um bife, e um queijo forte, e parati
    E eu morrerei feliz, do coração
    De ter vivido sem comer em vão.

    11. A Rosa de Hiroxima

    Pensem nas crianças
    Mudas telepáticas
    Pensem nas meninas
    Cegas inexatas
    Pensem nas mulheres
    Rotas alteradas
    Pensem nas feridas
    Como rosas cálidas
    Mas oh não se esqueçam
    Da rosa da rosa
    Da rosa de Hiroxima
    A rosa hereditária
    A rosa radioativa
    Estúpida e inválida.
    A rosa com cirrose
    A antirrosa atômica
    Sem cor sem perfume
    Sem rosa sem nada.

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