#1 Primeiras anotações num papel amarelo

    31/12/14

    Comecei a ler Graça Infinita. A ideia era esperar a chegada de 2015, mas como ela é amanhã, nada melhor que começar hoje. Porque sim e também para quebrar a onda de promessas para o ano novo.

    Cheguei à página 11 e decidi anotar algumas coisas. Procurei meu bloquinho amarelo – com linhas senão escrevo torto, um lápis novo e aqui estou. Provavelmente você que lê isto agora já está em 2015.

    O livro começa com um cara um pouco entediado, mas também feliz durante a reunião de profissionais da educação e do esporte para decidirem o futuro dele, que é um ótimo jogador de tênis e tudo indica que a reunião triunfará em algo positivo para ele, mas não sei.

    As tais notas de rodapé ainda não chegaram. Estou preocupada com elas porque ouvi dizer que são muitas. Mas muitas mesmo.

    Ao final de cada parágrafo eu pensei sobre o meu dia: estou com fome; já fui ao mercado e quando voltei comi um pedaço de panetone e parece que alguma fruta cristalizada ficou entalada na minha garganta. Mas é só uma sensação, pois não estou morrendo por isso…

    Na televisão – sem volume – está passando aquele novo seriado sobre o Batman. E de repente, por eu usar o livro como apoio, com metade da caveira olhando para mim, me lembrei que nesta noite sonhei com uma festa literária, que meus livros estavam lá expostos e que alguém pintou a minha capa de Graça Infinita. Ficou toda colorida em tons fortes, escuros, bonita, mas eu não queria dar o braço a torcer e briguei com a pessoa que coloriu a capa e, como todo sonho, eu não via o rosto dela.

    Vou parar de escrever para preparar uma lasanha. Congelada, claro.

    Está aberto o Diário de Leitura – Graça infinita. Toda semana você encontrará aqui excertos do meu dia misturados com as impressões, análises furadas, dúvidas e angústias e etc sobre a minha aventura com David Foster Wallace.

    02/01/2015

    Gosto quando o autor utiliza de vários focos na narração. Em um momento a história está em 1ª pessoa; em outro está em 3ª pessoa. E às vezes também você não sabe ao certo se é isso mesmo, pois pode ser um pensamento longo demais do personagem-narrador e então pode confundir os leitores menos atentos, como eu.

    Enquanto leio, no final de cada frase, penso em situações triviais à leitura. Será que a geladeira vai estragar? Será que a biblioteca ainda está cheia de pernilongos? Por que esqueci meu repelente na gaveta da mesa do trabalho? São pensamentos que até podem prejudicar a leitura, mas não. Porque o texto transforma tudo o que está alheio a ele em pó, como se fosse uma corda que prende e também puxa o escalador na montanha.

    Graça Infinita é realmente uma montanha. O calhamaço tem o poder de prender o leitor, mesmo que o pico da montanha esteja tão distante.


    73 páginas concluídas de 1141 páginas existentes.


    Graça Infinita (David Foster Wallace)

    Companhia das Letras, tradução de Caetano W. Galindo

    Literatura Americana, 1141 páginas, 2014.

    Título original: Infinite Jest

    Onde comprar: Amazon (e-book)

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