Uma semana toda passou e não li nada de Graça Infinita. Nas semanas anteriores deste diário eu estava de férias do trabalho, que acabaram na última segunda-feira. De lá até hoje eu chego em casa e me jogo no sofá, vejo programas de culinária na televisão & jogo Candy Crush & fim.

    A única coisa que li foi um artigo de Virginia Woolf, com um título muito pertinente: “Como se deve ler um livro?”. Fiz várias anotações sobre o assunto e claro que, naturalmente, o exemplo da minha leitura de Graça Infinita marcou forte presença, pois a cada questionamento woolfiano eu me recordava do pouco que já aprendi com David Foster Wallace.

    Para Virginia Woolf, a forma mais prática de um leitor compreender “os elementos daquilo que um romancista está fazendo” é escrever, pois assim é possível perceber o quanto é difícil ter uma ideia, uma história inteira e passá-la para o papel porque o que conseguimos registrar na folha acaba sendo diferente do que imaginamos, pois o pensamento não consegue acompanhar a mão – que digita ou escreve.

    Lendo isso, pensei em Graça Infinita e tentei imaginar David Foster Wallace ali, sentado na mesa e escrevendo a sua louca história. O quanto ele conseguiu transformar a sua própria ideia original na verdade que lemos no papel? O quanto ele foi grande? O quanto ele foi inteligente?

    Acredito que quanto mais o escritor conseguir ser claro, objetivo e focado, melhor será o livro e melhor será para o leitor também. A forma como compreendemos cada livro é particular de cada leitor, pois ele, a partir de suas próprias vivências, será capaz de absorver certas coisas e outras não. Mas e se o escritor falhar? É possível? Ele até pode ser muito bom tecnicamente, mas se o que ele colocou no papel for muito diferente do que ele imaginou? Mas se ele imaginou e acabou por escrever daquela forma, o próprio registro no papel é que acaba sendo a verdade da história imaginada. Então… então… como vamos saber que o escritor é claro, objetivo e focado? Ele pode ser tudo isso no meio do caos de sua história, Graça Infinita pode ser um bom exemplo disso, mas me pergunto – e vou me perguntar sempre pois não há resposta, mas talvez o exercício seja bom para fazer pensar: o livro que temos na mão é tudo o que o escritor imaginou?

    Eu gosto da literatura caótica – no sentido de textos não lineares, da falta de alguns “elementos” considerados importantes e outros “inventados” pelo escritor. Assim como Virginia Woolf foi genial em Mrs. Dalloway, em quase contar uma história sobre nada, mas é TUDO; tudo está lá, David Foster Wallace foi um gigante com o seu Graça Infinita que, mesmo eu não ainda ter concluído a leitura, posso dizer que a sua imaginação estava muito intensa e que a sua capacidade de transformar a ideia em texto foi genial, mesmo que a sua história no papel seja 10% apenas de tudo o que ele imaginou, pois mesmo assim, para nós leitores, é tudo tão intenso e louco.

    Não deve ser fácil ser escritor.

    Parada na página 247, de 1141 páginas existentes.

    #3, #2, #1


    Graça Infinita (David Foster Wallace)

    Companhia das Letras, tradução de Caetano W. Galindo

    Literatura Americana, 1141 páginas, 2014.

    Título original: Infinite Jest

    Onde comprar: Amazon (e-book)

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