Eu gosto muito de Clarice Lispector, mas o romance  Água Viva não me agradou. É difícil conseguir explicar por que, organizar em tópicos e discutir as falhas, os buracos, as fraquezas da escrita de Clarice Lispector nesse livro.

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    É difícil porque ler Clarice Lispector não é compreender, é mergulhar num mistério até tocar, mesmo que por segundos, a escuridão da vida. Dói, machuca, agoniza, mas depois se sobrevive e a vida passa a ter mais uma cor, uma cor que não tem nome, que poderia se chamar lispector. Que cor estou hoje? rosa? azul? preto? não, estou lispector. Então, se o livro é mesmo bom ou ruim – não sei. O que sei é que minha primeira leitura não foi legal, não contribuiu, não agregou, não fez de mim melhor, ou pior.

    Gosto das palavras de Caio F. Abreu, quando ele descreveu um encontro que teve com a Clarice: “Eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sagrada de tudo.”

    Então eu sei, e como sei o quanto é poderosa a literatura de Clarice Lispector, afinal, um dos meus livros preferidos é “A Paixão Segundo G.H”, onde neste, diferente de Água Viva, a personagem caminha perfeitamente até o ponto em que ela deseja chegar, há motivo para as palavras estarem ali, há motivo para o pensamento dela ser da forma que é: tudo maravilhoso, grande e poético.

    Mas em Água Viva não há motivo, está tudo fora do lugar, estranho e infantil, como se houvesse uma fissura entre as frases. Uma fissura; sou eu ou Clarice?

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