Por que Virginia Woolf nos comove tanto? E que bom ter ela como referência em outras leituras….

Estou lendo “Como funciona a ficção“, um livro do crítico literário inglês James Wood. O livro é um tipo de boa conversa sobre literatura e está dividido em várias partes, como: a narração, os detalhes, os personagens, a linguagem, os diálogos e outros elementos importantes de uma obra de ficção, que são analisados por Wood com muito entusiasmo. O nome Virginia Woolf aparece em vários momentos, mas foi na página 152, quando o autor discorre sobre linguagem que morri de amores, por ele e mais ainda por minha Virginia Woolf.

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“O dia ondula amarelo com todas suas messes.” Isso é Woolf, em The Waves [As Ondas]. Sinto-me mortificado com essa frase; um pouco porque não consigo explicar de jeito nenhum por que ela me comove tanto. Posso ver e ouvir a beleza e a estranheza dela. Sua musicalidade é muito simples. As palavras são simples. E o significado é simples também. Woolf está descrevendo o nascer do sol, que acaba preenchendo o dia com o seu fogo amarelo. A frase quer dizer algo como: é assim que um campo de trigo num dia de verão vai aparecer quando tudo estiver brilhando à luz do sol – um sinal amarelo, um oceano de cores em movimento. Sabemos exatamente, de imediato, o que Woolf quer dizer e pensamos: não havia como dizer melhor. O segredo reside na decisão de evitar a imagem usual dos trigais ondulantes e de optar por “o dia ondula”: o efeito, de súbito, é que o próprio dia, a própria textura e temporalidade do dia, parecem impregnados de amarelo. E aí aquele peculiar “ondula amarelo”, que parece absurdo (como pode alguma coisa ondular amarelo?), transmite a sensação de que o amarelo tomou conta do dia com tal intensidade que tomou conta também de nossos verbos – o amarelo conquistou nossa ação. Como ondulamos? Ondulamos amarelo. É a única coisa que podemos fazer. A luz do sol é tão absoluta que nos aturde, amolece, rouba-nos a vontade. Oito simples palavras evocam cor, auge do verão, letargia do calor, safra madura.” (p. 152, James Wood, Como funciona a ficção)

Uma das coisas mais legais, dentro de todo o meu universo literário é saber que, de alguma forma, as pessoas estão conhecendo Virginia Woolf. Adoro encontrar amigos e eles mesmo me apresentarem como “ela pesquisa Virginia Woolf” ou até mesmo “ela louca por uma escritora aí, uma tal de Virginia Woolf”. De qualquer forma, independente se mais pomposa ou divertida, fico feliz que o nome da minha escritora preferida está se espalhando em todos os lugares.

Foi assim: quando li esse pequeno trecho, eu quis abraçar James Wood, porque Virginia Woolf nos comove tanto… mas é muito difícil explicar. Ele, como crítico literário, conhece muito bem sobre as diferentes linguagens na literatura. Cada autor, com seu estilo, técnica e outros ingredientes, oferece aos leitores um novo jeito de percepção do mundo. Para mim, ler Virginia Woolf é algo tão completo e único, como se ela mesma fosse essa luz ondulante amarela. Eu vibro!

Uma vez, escrevi uma carta para ela.

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4 Comentários

  1. Nivia de Souza on

    Depois de tantas boas palavras sabiamente colocadas em forma de texto, só digo: incrível.

  2. Heloisa C. Freire on

    Tenho esse mesmo sentimento, meio epifânico, sei lá, quando leio Virgínia Woolf. Não sei se esse prazer é semântico, poético ou filosófico. .. só sei que me invade. Me acontece às vezes quando leio Guimarães Rosa… aqueles enredos e toda aquela verve me aduzem Rssss, e eu me deixo levar. ?

  3. Adoro Virginia Woolf, apesar de ainda ter lido poucos livros dela. Mas essa sensação única que você descreveu eu tenho quando leio García Márquez! Um deleite só!

    Beijinhos,
    Aline – Livro Lab

  4. Minha nossa, ista é a coisa mais curiosa que me ocorreu. Estava pesquisando uma foto dela para por numa CARTA que escrevi para a mesma e vim parar aqui!!! Quando leio Virginia sinto a morte e a vida em minha garganta, como se eu mesma naufragasse, não consigo explicitar melhor a minha adoração por ela…

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