A literatura pode ser estudada por diversos aspectos. Tudo pode partir apenas de uma frase ou de um capítulo; há também análises de um livro todo, seus personagens, seu estilo, a linguagem, etc. O mais interessante e maravilhoso está justamente nessa perspectiva múltipla, que agrada a todos os tipos de leitores e estudiosos da arte das palavras. No livro “A arte de escrever”, Arthur Shopenhauer apresenta para o leitor os três tipos de autores

tipos de autores

a.) Aquele que escreve sem pensar

Segundo Shopenhauer esses autores “escrevem a partir de memórias, de reminiscências, ou diretamente a partir de livros alheios. Essa classe é a mais numerosa (…) esse tipo de literatura é como a reprodução feita a partir de moldes de gesso, feitos a partir de cópias, e assim por diante, de modo que no final do processo o Antínoo* se torna o contorno quase irreconhecível de um rosto.

b.) Os que pensam enquanto escrevem

Nesta “categoria” estão os escritores que “pensam justamente para escrever” e também são numerosos. Eles, de acordo com o pensamento de Shopenhauer, “adia o pensamento até a hora de escrever, é comparável ao caçador que busca ao acaso sua presa: dificilmente ele trará muita coisa para casa.

c.) Os que pensam antes de se pôr para escrever

Aqui está o tipo de escritor mais raro, porque “escrevem apenas porque pensaram” e são os mais raros porque o processo de construção da história é “como uma batida de caça em que a presa foi previamente cercada e encurralada, para depois ser conduzida a um outro lugar igualmente cercado, onde não pode escapar ao caçador, de modo que agora se trata apenas de apontar a atirar (expor). Esse é o tipo de caça que dá resultado.

Essa metáfora sobre a caça ser como a busca do autor pela sua própria obra é interessante porque esclarece que o terceiro tipo de autor é aquele que está mais completo, pois prepare-se para a sua atividade com perfeição. Por outro lado, Shopenhauer também esclare que, mesmo esse terceiro tipo – que podemos relacionar aos grandes nomes da literatura (Virginia Woolf, Gabriel García Márquez, Franz Kafka, entre outros), também divide-se em duas categorias:

  • aqueles que pensam sobre as próprias coisas;
    • “são estimulados pelas próprias coisas, tem seu pensamento voltado para elas de modo direto. Apenas entre eles encontram-se os que permanecerão e serão imortalizados.”
  • aqueles que pensam apenas sobre livros, sobre o que os outros disseram.
    • “para pensar eles precisam de um forte estímulo de pensamentos alheios já disponíveis. Esses pensamentos se tornam o seu próximo tema, de modo que os outros permanecem sempre sob a influência dos outros, sem nunca alcançarem realmente a originalidade.”

Nada é único e imutável

O próprio Shopenhauer afirma em seu livro que é um grande erro acreditar que a última palavra dita é sempre a mais correta, portanto, acredito que essa classificação para os autores não precisa ser usada como algo único e imutável, pois o mais importante pode ser sobre o pensamento do jovem leitor que, munido dessas informações, pode olhar para os livros que leu de um jeito diferente, mais cauteloso e crítico.

Segundo Virginia Woolf, em seu artigo “Como se deve ler um livro“, a leitura continua após a virada da última página, pois é nesse momento que o leitor passará por alguma fases de experimentações. Primeiro, se o livro foi bom, ele ficará admirado com tudo que leu e, num segundo momento, ele pode desenvolver um olhar crítico para a obra, compará-la a outras obras e assim construir uma ideia sobre o livro, os pontos fortes, os pontos fracos, etc.

Quando penso nesses três tipos de autores, percebo o quanto é difícil e também injusto classificar os autores nesse formato, que diz tanto mas também pode ser um caminho perigoso. Por outro lado, essa simples constatação de que os autores são diferentes, colabora positivamente para a literatura, dentro do universo do próprio escritor – se ele for atento e interessado; dentro do universo do próprio leitor – se ele for atento e interessado. Ganhamos.


*estátua romana

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