Precisamos Falar sobre o Kevin (Lionel Shriver) foi recusado por vários agentes literários e mais de 30 editoras, mas hoje é um livro premiado e traduzido em diversos países.

A vida ganha uma encruzilhada cada vez que é preciso decidir alguma coisa. Chovia muito, o telefone não funcionava e Eva em sua casa, à espera do marido que estava muito atrasado ao ponto dela pensar que algo terrível tinha acontecido ao amor de sua vida. Ele demora, ele demora; e quando chega ela sente novamente a felicidade – que foi perdida na encruzilhada da escolha – ter ou não um filho. Ela decide ter o filho naquela noite. Decide por amor ao marido? Por querer ser mãe? Ou por que queria sair da encruzilhada? Ela queria sair da encruzilhada.

Eva, a personagem principal de Precisamos Falar sobre o Kevin

Eva era uma mulher americana, independente e feliz com o seu casamento e profissão até o momento em que resolve ter um filho, o Kevin que, aos 17 anos, realiza um massacre na escola. A partir daí Eva escreve cartas ao marido Franklin onde confessa, através de relatos cheios de detalhes e muita sinceridade, os momentos em que considerou o marido um babaca, que ela não amava Kevin e que queria sua vida sem filhos de volta:

Franklin, eu nunca me dera conta de quanta energia você gastava para manter a ficção de que, em linhas gerais, éramos uma família feliz, cujos problemas banais e transitórios só faziam tornar a vida mais interessante. Talvez toda a família tenha um membro cuja tarefa principal é fabricar essa embalagem atraente. Como quer que fosse, você havia renunciado abruptamente. De um modo ou de outro, já visitáramos essa conversa inúmeras vezes, com a lealdade habitual que faz outros casais irem para a mesma casa de férias todo verão. Mas, em algum momento, esses casais têm que olhar para sua casa de campo, dolorosamente conhecida, e admitir um para o outro: No ano que vem, teremos que experimentar outra coisa.

(Precisamos falar sobre o Kevin. Lionel Shriver. p. 403)

A escritora Lionel Shriver não deve ter escolhido o nome de Eva à toa: Eva, aquela que comete o grande erro, que pega a maça: “Eu nunca havia desejado, de maneira tão plena e consciente, nunca ter parido o nosso filho. (…) Mas teria que viver. Eu havia criado minha própria Outra, que, por acaso, era um menino.” (p. 404)

A princípio, talvez, seja impossível gostar de Eva, pois parece que ela fez tudo errado, mas no desenrolar da história – que ela mesma conta através das cartas – é possível uma grande afeição por ela. Eva é uma mulher orgulhosa e quando ela se vê em situações que, pelo que todos dizem, ela deveria sentir-se mãe, ela não sente nada. E toda a história dela com o Kevin é uma busca por querer ser mãe e não conseguir, simplesmente porque ela não sente e não se engana com isso, diferente do pai que finge que a família é perfeita. Assim, Eva assombra a vida dele quando afirma que Kevin é uma criança incomum, as situações em que ele apronta são complicadas, fortes e macabras, mas o pai acredita que é coisa de adolescente e implicância de Eva.

Leia a entrevista com Lionel Shriver

Precisamos falar sobre o Kevin (Leonel Shriver) é sobre aceitar os sentimentos e a falta deles

Lionel Shriver poderia cair no comum, utilizando fatos que ocorreram nos EUA para vender sua história, mas em nenhum momento ela trilha nesse perigoso caminho, o livro Precisamos Falar Sobre o Kevin é uma história sobre aceitar sentimentos e a falta deles. É um livro muito sincero, honesto, denso e envolvente. Porém, o mais difícil mesmo é conseguir falar sobre o Kevin e a personagem Eva caminha nessa estreita estrada nas 463 páginas do livro, tentando buscar um motivo, um sentimento, tanto dela quanto de Kevin.

Quem é Kevin?

Talvez os grandes mestres da psiquiatria, os grandes psicólogos, terapeutas ou sabe-se lá quem mais, desvendem a mente de um assassino e mostrem onde tudo começa e o mais importante: se um dia termina. E o que temos no livro é Kevin: uma pessoa fria, calculista, cínica, e manipuladora. Com o pai, Kevin se comporta exatamente da maneira que Franklin deseja: um filho que acha o máximo tudo o que o pai diz e faz. Com a mãe ele não usa máscaras, e mostra todo o seu lado exibicionista cruel que torna a relação dos dois muito complicada, sem carinho, apesar de verdadeira.

Por fim, o impasse de Eva é: por que ele é assim? O livro é perturbador, Lionel Shriver tem uma escrita poderosa que nos faz pensar muito sobre o papel da família, a violência nas escolas e a maternidade.

Sobre a autora:

A autora é americana, nasceu em maio de 1957 com o nome de Margaret Ann Shriver, mas ela quis mudar para Lionel por achar este nome mais sonoro. Além de Precisamos Falar sobre o Kevin, a autora já publicou:


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4 Comentários

  1. É um tema pesado e triste. Um pesadelo mesmo uma mae parir um filho psicopata- assassino. Culpa, dor, uma mae dessas deve sentir tudo de ruim, principalmente porque ela nao queria ser mae.

    Interessante o livro e a resenha,

    beijos e muito sucesso com o novo endereço!

    Fernanda

  2. Fran, parabéns por mais este passo adiante com o seu blog, que agora é “.com”! Eu já te disse tudo que achei sobre a sua resenha, mas vou deixar registrado aqui para os seus leitores 🙂 Achei seu texto muito profissional e ao ler a gente sente muita vontade de ler o livro. Este livro engloba um tema é bem atual, amplamente discutido nos dias de hoje, principalmente no meio psicológico e este olhar voltado para a família de um psicopata (que nesse caso ainda é um adolescente e nem poderia ser diagnosticado assim), seus sentimentos e comportamementos com relação a ele e o quanto isso interfere ou não na formação de sua personalidade é sem dúvida um plus. Eu já tinha até pegado este livro numa livraria para olhar, mas só depois da sua resenha me convenci a ler porque antes, achei que este era só mais um livro sobre atentados em escola rs. Beijos.

  3. Adorei a resenha, as analises são muito bem construidas. E felizmente compartilhamos da mesma opinião a respeito deste livro. A autora realmente soube ser audáciosa e obter êxito, espero que continue assim com seus livros. Eu raramente digo que certo autor é meu favorito por apenas ler uma de suas obras, Lionel foi a primeira excessão.

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