Ah, os relacionamentos! Pode passar o tempo que for e ele vai ser assunto importante de nossas vidas, afinal, somos moldados por eles. Seja na nossa família, com os amigos ou namorados e namoradas.

Podemos fazer uma visita rápida ao passado. Na época de minha mãe, ela me conta que ia até a Praça PIO XII para passear e paquerar e, quando ela conheceu o meu pai, teve toda a formalidade (e o medo) para que ele pudesse sentar no sofá da sala ao lado dela em algumas noites durante a semana. Era isso o namoro e foi assim por mais de sete anos até que eles se casaram. Ela não teve o hábito das cartas ou bilhetes, mas tudo era resolvido pessoalmente, olho no olho. Minha mãe hoje, adora usar o celular, se diverte com minhas tias no What’s App, mas odeia correntes, pois acha uma chatice e eu agradeço. Meu pai, não tem celular, acha uma grande bobagem e se incomoda com o uso até do telefone, pois sempre acha que as pessoas ligam em horários errados: hora do almoço, hora do jantar ou hora de assistir filme.

Nos romances de Jane Austen, escritora inglesa que registrou os absurdos patriarcais do século XIX com muita ironia, que ainda hoje muitos não percebem sua genialidade, denunciava os comportamentos sociais por interesses, principalmente os financeiros. No entanto, esses relacionamentos – que também tinham amor, afeto e admiração, geralmente começavam em grandes bailes da sociedade inglesa e, depois, conforme os interesses, avançavam para as cartas. Nelas, cada personagem tinha a oportunidade de relatar o seu ponto de vista sem se preocupar com o tempo, com frases longas, que narravam desde o que comeu no café da manhã a sentimentos mais profundos. E, claro, os convites para o próximo grande evento também aconteciam por cartas.

Hoje, os aplicativos estão aí acompanhando o ritmo da vida moderna. Para minha mãe, a praça era o ponto de encontro; para a sociedade inglesa, os grandes bailes; hoje, tudo pode acontecer pelo celular.

Acredito que não há problemas na forma como cada um escolhe se relacionar, já dizia um poeta que cada um sabe da dor e a delícia de ser o que se é. Entretanto, o que mantem as relações e sempre manterá, tenho certeza, é o encontro presencial.

Não há praça sem pessoas dispostas a se olharem. Não há baile sem pessoas dispostas a conversarem e dançarem, não há aplicativos sem pessoas dispostas a clicar no “like”. A nossa sociedade poderá evoluir muito nos moldes como dá o primeiro passo, mas ainda sobreviveremos quando estivermos dispostos a deixar as praças, os bailes e os aplicativos e se dedicar a uma relação verdadeira, com todas as suas belezas que ainda movem o mundo.


Esta crônica faz parte do programa “Sunset”, que acontece todos os domingos, a partir das 20h na Rádio Ipanema.

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